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Sem experiência política, o astro Wyclef Jean concorrerá à Presidência do Haiti

;Se eu fosse presidente, seria eleito na sexta-feira, assassinado no sábado e enterrado no domingo. (;) Em vez de gastar bilhões com a guerra, posso usar aquele dinheiro para alimentar os pobres.; Em 2008, ao compor a canção intitulada Se eu fosse presidente, o rapper haitiano Wyclef Jean provavelmente não tinha a séria pretensão de um dia chegar ao cargo máximo de seu país. Dois anos ; e principalmente o terremoto devastador de 12 de janeiro passado ; foram suficientes para mudar a mentalidade do músico.

;Eu gostaria de dizer ao presidente Barack Obama que os Estados Unidos têm Obama e o Haiti tem Wyclef Jean;, afirmou, no último dia 6, ao preencher o registro de candidatura para as eleições presidenciais de 28 de novembro. Nas ruas de Porto Príncipe, cartazes com a frase ;Jen Kore Jen; (;Os jovens apoiam os jovens;, em crioulo) já dão o tom da campanha de Wyclef. ;Ele é uma estrela do hip-hop e não se importa em dizer que é haitiano, aonde quer que vá;, orgulha-se Steve P;dre, funcionário de uma empresa de telefonia na capital, em entrevista pela internet.

Wyclef Jean provavelmente não imaginava que seu nome aglutinaria tanta paixão, mas também tanta polêmica. Pras Michel, seu ex-companheiro na banda Fugees, avisou que apoiará o rival Michel Martelly nas eleições. ;É oficial, as pessoas estão pedindo isso. Estou aqui no ;umbigo; do Haiti, eu endosso Michel Martelly como novo presidente;, escreveu Pras, no microblog Twitter. ;Eu quero dizer que, sem sombra de dúvidas, amo Wyclef até a morte, mas ele não está qualificado para ser o líder do novo Haiti;, assegurou. Em recente entrevista à TV CNN, por sua vez, o ator norte-americano Sean Penn lembrou que o rapper tem se ausentado do país devastado pelo tremor de 7 graus na escala Richter. ;Não estou acusando-o de ser oportunista; eu nem conheço o homem. Uma das razões para as quais eu não sei muito sobre Wyclef é que não tenho visto ou escutado qualquer coisa dele nos últimos seis meses em que estive no Haiti;, criticou Penn, que tem se engajado na ajuda humanitária às vítimas do sismo.

Esperança
O que muito se pergunta é se Wyclef, desprovido de experiência política, teria condições de governar o Haiti em um histórico momento de fragilidade. O estudante Marc Alain Louis Jacques, 20 anos, acredita que sim e pretende votar nele. ;Wyclef será um bom presidente. Além de ter ajudado muito o Haiti, ama meu país;, afirmou ao Correio, pela internet, o morador de Porto Príncipe. ;Ele não tem experiência, mas receberá ajuda de políticos;, acredita. Jacques crê que o popstar haitiano pode fazer bastante como presidente. ;Ele vai criar universidades, hospitais e lutar pelo desenvolvimento;, prevê.

O ator Sean Penn pensa diferente e chegou até a acusar Wyclef de desviar US$ 400 mil em doações para o Haiti, por meio de sua Yéle Haiti Foundation. ;Ele alega que não fez isso. Isso é algo a se analisar;, afirmou Penn. ;Eu estive lá (no Haiti). Sei o que US$ 400 mil fariam pela vida daquelas pessoas;, acrescentou. O astro de Hollywood disse que o rapper parece ter sido bem influenciado pela promessa de apoio de algumas empresas. ;O Haiti é claramente vulnerável. Há uma história de interesses norte-americanos entrando (no país) e pagando mal a população;, desabafou.

Personagem da notícia
Talento e inteligência

Nel Wyclef Jean nasceu em 17 de outubro de 1972, em Croix-des-Bouquets, a 13km de Porto Príncipe. O pai, o pastor Gesner Jean, mudou-se com a família para o Brooklyn, em Nova York, quando Wyclef tinha apenas nove anos. ;Quando eu fui para a América, esperava ver dinheiro caindo do céu;, disse, certa vez. Já em Newark (Nova Jersey), a mãe presenteou-lhe com uma guitarra, na esperança de afastá-lo das gangues da cidade. Na escola, aprendeu a tocar 15 instrumentos e assimilou conceitos do negócio da música. Com o primo Prakazrel Pras Michel e a amiga Lauryn Hill, Wyclef começou a compôs canções no estilo hip-hop. Formaram o trio Tranzlator Crew e assinaram pela primeira vez com uma gravadora ; a Ruff House/Columbia ;, em 1993.

Problemas legais por causa do nome da banda levaram os amigos a rebatizá-la para Fugees (uma contração de Refugees, refugiados, em inglês). O casamento com Pras Michel e Lauryn Hill terminou em 1997, quando Wyclef começou sua carreira solo. Desde então, lançou seis álbuns próprios. Em 2005, criou a Yéle Haiti Foundation, uma entidade que já conseguiu bolsas estudantis para milhares de crianças haitianas. Em 2007, conheceu a cantora baiana Daniela Mercury e convidou-a a participar de uma de suas músicas.