O talibã açoitou publicamente e depois executou uma viúva grávida no Afeganistão, alvo de três tiros na cabeça acusado por suposto adultério, informou a polícia local nesta segunda-feira (9/8). Bibi Sanubar, de 35 anos, foi mantida presa por três dias antes de ser assassinada em um julgamento público no domingo, comandado por um líder local do talibã no distrito de Qadis, na província rural de Badghis (oeste).
O talibã acusou Sanubar de ter mantido um "relacionamento ilícito", origem de sua gravidez. Segundo Ghulam Mohammad Sayeed, chefe da polícia do distrito, a mulher foi açoitada 200 vezes em público antes de ser executada.
Ainda de acordo com o chefe da polícia, Sanubar foi executada pelo próprio comandante do talibã local, Mohammad Yousuf. Seu corpo foi abandonado em uma área pertencente ao governo afegão.
O episódio trouxe à memória dos afegãos o cruel período do governo talibã, iniciado em 1996 e derrubado em 2001 pela coalizão da Otan liderada pelos Estados Unidos. Os fundamentalistas islâmicos promoviam rotineiramente apedrejamentos e açoitamentos públicos de pessoas acusadas de adultério ou de manter relações sexuais sem serem casadas.
As autoridades talibãs também costumavam mutilar as mãos e pés de réus acusados de roubo ou assalto.
Nesta segunda-feira, um porta-voz do talibã negou que a milícia tenha sido responsável pela execução de Bibi Sanubar. "Não fizemos nada disso em Badghis ou em qualquer outra província", afirmou Qari Yosuf Ahmadi, acrescentando que a informação é "propaganda" de estrangeiros e do governo afegão, apoiado pelo Ocidente.
O talibã não é um movimento nacional unificado, e pequenos grupos operam com autonomia estruturas de governo paralelas em bolsões isolados do sul, onde se concentra a insurgência.
O suposto amante de Sanubar não foi punido.
Mohammad Nasir Nazaari, chefe do conselho provincial de Badghis, confirmou a execução e disse que o distrito de Qadis está atualmente sob controle talibã.
O líder do conselho religioso do Afeganistão ocidental, Mohammad Kabaabiani, afirmou que a execução contraria os princípios islâmicos. Abdul Qadir Rahimi, líder da Comissão Afegã Independente dos Direitos Humanos, condenou o assassinato da jovem grávida.
"Qualquer julgamento deste tipo é inaceitável, e é uma violação dos direitos humanos. Todos os julgamentos devem ocorrer em um tribunal autorizado e observar todas as medidas da justiça", declarou à AFP.