Depois de passar por Caracas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou ontem a Bogotá para participar do jantar de despedida de Álvaro Uribe como presidente da Colômbia. Hoje, Lula assiste à posse de Juan Manuel Santos, a quem levará um recado do colega venezuelano, Hugo Chávez. ;Lula leva uma missão da qual falamos bastante com o secretário da Unasul, Néstor Kirchner. Falaremos amanhã e depois de amanhã. Estamos muito otimistas;, afirmou Chávez. O presidente venezuelano guardou segredo sobre a ;missão;, mas deu sinais de que poderia ser uma tentativa de reaproximação: Caracas rompeu relações com Bogotá no fim de julho. ;Eu te peço que leve uma saudação ao novo presidente da Colômbia, e agradeço por estar sempre preocupado e atento;, disse o anfitrião, durante reunião da qual também participou Kirchner.
Chávez recusou-se a assistir à posse de Santos, embora seu governo tenha mantido contatos iniciais e informais com a nova chanceler colombiana, María Ángela Holguín, que foi embaixadora em Caracas no início da década. Kirchner e Lula tentam recompor as relações entre os dois vizinhos, arranhadas mais uma vez pela denúncia formal de Uribe sobre a presença de guerrilheiros colombianos na Venezuela ; a crise será tema de uma reunião extraordinária de chefes de Estado e governo da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), em data e local ainda a serem definidos. Apesar da ausência de Chávez em Bogotá, o governo venezuelano será representado hoje pelo chanceler Nicolás Maduro, enviado de última hora para a posse de Santos.
Sul-Sul
Kirchner, falando pela Unasul, expressou a disposição dos países do bloco em aprofundar políticas de cooperação conjunta para o desenvolvimento dos blocos continentais. ;A Unasul e os presidentes da América do Sul estão dispostos a aprofundar as relações com a África. A mensagem é que a região está disposta a avançar, a construir um grande programa para 2011, mas é fundamental construir um trabalho que avance;, disse Kirchner, depois da uma reunião de trabalho para avaliar projetos de cooperação durante a cúpula entre América do Sul e África (ASA), aberta ontem na capital venezuelana.
Antes da reunião birregional, os três presidentes pararam por 10 minutos para abraçar, beijar e apertar as mãos de crianças, mulheres e homens na Praça Bolívar. Mais tarde, Lula e Chávez abordaram assuntos de cooperação bilateral nos setores de energia, petróleo, alimentos e infraestrutura, entre outros. O encontro entre os dois presidentes fazia parte do quadro de reuniões trimestrais programadas antes da crise diplomática entre Colômbia e Venezuela.
"Lula leva uma missão da qual falamos bastante com o secretário da Unasul, Néstor Kirchner. Falaremos amanhã e depois de amanhã. Estamos muito otimistas"
Hugo Chávez, presidente da Venezuela
Hugo Chávez, presidente da Venezuela
Despedida no auge
Considerado o principal aliado dos Estados Unidos na América Latina, o advogado Álvaro Uribe, 59 anos, entrega hoje a presidência da Colômbia a seu ex-ministro Juan Manuel dos Santos com popularidade no auge. De acordo com pesquisas recentes, seu índice de aprovação está perto de 80%, resultado, em grande parte, da política de ;segurança democrática; adotada contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
As conquistas obtidas na área de segurança, contudo, contrastam com as dificuldades que seu governo enfrentou nas relações com os vizinhos, especialmente com os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e do Equador, Rafael Correa. Um de seus maiores êxitos na luta contra as Farc foi a morte de seu número dois da guerrilha, Raúl Reyes, em março de 2008, no ataque a um acampamento rebelde em território equatoriano. O episódio provocou a ruptura de relações com o Equador, restabelecidas em novembro de 2009.
Embora apresente um bom balanço econômico, com crescimento sustentado (picos de entre 6% e 7% ao ano) e inflação sob controle (2% anual), o governo Uribe deixa um saldo negativo no social, com 46% da população vivendo abaixo da linha de pobreza e taxa de desemprego de 12%.