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Israel ameaça Hamas e xiitas

Depois de escaramuça com o Líbano, premiê promete retaliar também ataques palestinos

Um dia depois de uma escaramuça de fronteira com o Exército libanês, Israel atacou ontem alvos na Faixa de Gaza, em represália a disparos de foguetes que sofreu nos últimos dias e atribui ao movimento palestino Hamas. A escalada de incidentes deu alento a rumores que circulam desde o início da semana e indicam que o governo israelense estaria se preparando para uma guerra em três frentes ; Líbano, Síria e Gaza. ;Nos últimos dias nós testemunhamos três ataques contra Israel. Um ataque contra Ashkelon, a partir de Gaza; um do Exército libanês contra tropas que faziam uma operação de rotina; e outro contra Eilat, a partir do Sinai. Quero deixar muito claro, ao Hamas e ao governo libanês, que nós os vemos como responsáveis pela violenta provocação;, afirmou à TV o premiê Benjamin Netanyahu.

Na madrugada de ontem, soldados israelenses mataram um palestino e feriram outros três perto de Khan Yunes, no sul de Gaza. As autoridades do território palestino, governado pelo Hamas, afirmaram que as vítimas seriam ativistas em um setor próximo à fronteira e acusou os militares israelenses de atacarem o grupo com projéteis de tanques. Um porta-voz do Exército israelense disse que os palestinos tentavam esconder artefatos explosivos. O governo egípcio, por sua vez, acusou ;grupos palestinos; pelos disparos de foguetes que atingitram Eilat e o vizinho porto jordaniano de Aqaba, onde um morador morreu.

Na segunda-feira, o jornal libanês Daily Star, citando a mídia israelense, sinalizou que o gabinete de segurança de Israel teria discutido a possibilidade de uma guerra contra o Líbano, a Síria e o Hamas. ;A estratégia típica do Hezbollah (partido xiita libanês que travou uma guerra com Israel em 2006) e do Hamas, sempre foi a de coordenar esforços contra nós;, disse ao Correio o conselheiro da Embaixada de Israel, Leo Vinovezky. No entanto, o diplomata descartou que seu governo esteja disposto a começar uma guerra em três frentes. ;Mais que loucura, é (uma guerra) desnecessária para todos ; tanto palestinos quanto israelenses;, destacou.

Para Yossef Bodansky, analista e editor da publicação Defense & Foreign Affairs, a notícia da guerra teria sido plantada pela mídia do Hezbollah para unir a opinião pública libanesa em torno de ;uma ameaça israelense; e convencer os libaneses a ignorarem o Tribunal Especial das Nações Unidas que deve acusar o movimento xiita pelo assassinato do ex-premiê Rafik Hariri, em fevereiro de 2005. ;Nessas circunstâncias, o incidente na fronteira israelense-libanesa deve ser considerada uma ;prova fabricada;;, afirma. O secretário-geral do Hezbollah, xeque Hassan Nasrallah, rebateu as acusações e prometeu apresentar nos próximos dias ;provas; de que o assassinato de Hariri teria sido ;encomendado; por Israel.

Fronteira
O presidente sírio, Bashar Al-Assad, e o líder da minoria religiosa libanesa drusa, Walid Jumblatt, acusaram Israel de ;minar; os esforços para estabilizar (1)o Líbano após o choque armado de terça-feira, no qual cinco pessoas morreram. Reunidos em Damasco, os dois dirigentes ressaltaram que o objetivo israelense com a escaramuça teria sido ;enfraquecer as iniciativas; em favor da união dos libaneses, como a reunião da última sexta-feira, em Beirute, entre Al-Assad, o rei Abdullah, da Arábia Saudita, e a cúpula do governo libanês.


1 - Caça aos espiões
Um dirigente do partido cristão libanês ligado ao ex-presidente Michel Aoun, aliado dos xiitas do Hezbollah (pró-iraniano), foi preso ontem e acusado de espionar para Israel. ;Fayez Karam, general reformado do Movimento Patriótico, de Michel Aoun, está sendo preso por possível envolvimento em espionagem;, disse uma fonte do partido à TV árabe Al Jazira. Karam, de 64 anos, é o terceiro suspeito de espionagem para o governo israelense a ser detido desde a semana passada.