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Ahmadinejad leva susto em explosão, mas Irã nega ataque

Ele se nega a admitir o Holocausto, sonha em varrer Israel do mapa, tem as mãos manchadas com o sangue de opositores e trata o controverso programa nuclear como um assunto de orgulho nacional. O presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, tem motivos de sobra para temer seu próprio assassinato. O medo talvez tenha aumentado ontem, durante uma visita a Hamedan, 336km a oeste da capital, Teerã. A comitiva do chefe de Estado chegou à cidade por volta das 9h (1h30 em Brasília) e ali permaneceu por pouco mais de seis horas. A caminho de um estádio, o comboio foi surpreendido por uma explosão. De acordo com o site conservador Khabaronline, o primeiro a reportar o incidente, uma granada teria sido lançada em direção ao mandatário. ;O carro de Ahmadinejad estava a 100m e ele não se machucou;, afirmou o site. Mais tarde, em seu discurso à população de Hamedan, Ahmadinejad não fez qualquer menção ao estrondo.

Citando a assessoria de imprensa da Presidência do Irã, a agência de notícias France-Presse divulgou que a granada seria ;um grande artefato; jogado por um partidário que comemorava a visita. Mais tarde, o Khabaronline trocou o termo ;granada; por ;fogo de artifício;. A mesma versão foi dada pela agência iraniana Irna. ;Um jovem garoto lançou fogos de artifício contra o comboio do presidente Mahmud Ahmadinejad para celebrar sua chegada, provocando vergonha;, afirmou a reportagem do órgão estatal. Ainda segundo a Irna, ;a juventude iraniana usa os fogos durante cerimônias especiais, como festivais do ano-novo ou partidas de futebol;. ;Infelizmente, um número de jornalistas relatou o incidente como se fosse uma explosão de granada, causando ambiguidade;, acrescentou. Por sua vez, a agência Fars noticiou a prisão do suspeito de arremessar o objeto, classificado por ela de narenjak ; palavra persa usada para designar bombas usadas em ocasiões festivas.

Adversários
Inofensivo ou não, o artefato assustou Ahmadinejad e seus guarda-costas. Uma fotografia da agência Reuters mostra os seguranças se debruçando sobre o presidente, na tentativa de protegê-lo. Em entrevista por e-mail, o norte-americano Mark Katz, professor de governo e política da George Mason University e especialista em Oriente Médio, disse duvidar da versões oficiais para o incidente. ;O regime iraniano costuma refutar coisas que o envergonham. Por isso, deposito pouca fé na negativa de Teerã;, comentou. ;No Irã, alguns grupos internos querem matar Ahmadinejad. Entre eles, estão facções secessionistas (como os azeris ou os cursos), os reformistas e forças anticlericais, como o Mujahedeen-e-Khalq (MEK). Mas há possibilidade de envolvimento externo. O governo provavelmente culpará os ;imperialistas e zionistas; pelo episódio;, acrescentou Katz.

As suspeitas sobre uma tentativa de assassinato ganham ainda mais força após as recentes declarações de Ahmadinejad e de autoridades do regime. Na última segunda-feira, durante discurso em Teerã, o próprio líder iraniano acusou Israel de um suposto complô. ;Os sionistas estúpidos contrataram mercenários para me assassinar;, afirmou. Um dia depois, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Ramin Mehmanparast, alimentou a tese de conspiração. ;Está muito claro que as forças sionistas têm ordens para assassinar diferentes personalidades do mundo islâmico, (;) e um dos maiores inimigos do regime sionista é Ahmadinejad;, alertou. Para Katz, a recusa de Teerã em admitir o atentado tem um motivo claro. ;Isso seria o mesmo que reconhecer a existência de forças opositoras internas;, explicou.

O iraniano Farideh Farhi, cientista político da Universidade do Havaí, não crê que Ahmadinejad tenha sofrido uma tentativa de assassinato ontem. Mas admite que, caso o artefato lançado tenha sido uma granada, provavelmente foi fruto de uma mente perturbada ou descontente. ;Hamedan não abriga grupos étnicos e não tenho escutado nada sobre problemas incomuns na província;, comentou, por e-mail.

Pela internet, o estudante Mehran Ghorbani, morador de Teerã, também desqualificou a suspeita de atenatdo. ;Ninguém no Irã tem esperança que tal coisa ocorra, é apenas impossível;, garantiu, ao destacar o forte aparato de segurança em torno de Ahmadinejad. ;Todas as casas ao redor do palácio pertencem ao governo e estão cercadas com grades. O presidente tem cães adestrados que podem detectar explosivos;, concluiu.

Os inimigos do regime

Uma rede de grupos opositores tem se fortalecido no Irã. Confira os principais:

; Mujahedeen-e-Khalq (MEK)
Maior grupo de oposição ao regime do presidente Mahmud Ahmadinejad, também é conhecido como Organização Mujahedeen do Povo do Irã. Fundado na década de 1960 por esquerdistas, já atacou autoridades iranianas e instalações do governo. Possui milhares de integrantes ; um terço são guerrilheiros. Seu braço político, o Conselho Nacional de Resistência do Irã, opera em várias capitais, inclusive Paris e Washington.

; Jundollah
O grupo rebelde sunita garante ser o autor de um duplo ataque suicida que matou 28 pessoas, incluindo membros da Guarda Revolucionária, em 15 de julho, no sul do Irã. A facção, que luta em defesa dos direitos da minoria sunita, foi fundada em 2002 e iniciou sua campanha armada três anos depois. No início de 2005, expandiu suas operações na província de Sistan-Baluquistão e, de sequestros, passou a realizar atentados suicidas.

; Partido da Vida Livre do Curdistão (PJAK)
Dissidência do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), luta pela autonomia de áreas curdas ; no noroeste e no oeste do Irã ;, mas é visto pelo regime de Ahmadinejad como grupo terrorista. De acordo com a agência de notícias iraniana Irna, o grupo também está envolvido no assassinato de membros da Guarda Revolucionária.


Sakineh está mais perto da execução

Um dia depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmar a oferta de asilo a Sakineh Ashtiani, condenada a apedrejamento por adultério, a iraniana está mais perto da execução. A Corte Suprema de Teerã descartou um novo julgamento e acolheu o pedido do promotor Hossain Nobacht para o provável enforcamento ; a pena havia sido comutada no início do mês passado. A expectativa é de que a agonia de Sakineh termine, de forma trágica, já na próxima semana. ;Apesar de muitos protestos e da preocupação internacional pela senhora Ashtiani, o regime islâmico continua com seu terror contra o povo e contra as mulheres no Irã. Estão preparando a execução dela. A Justiça iraniana nada tem de justa, e não passa de ferramenta política de opressão e autopreservação do regime islâmico;, desabafou a ativista Mina Ahadi, fundadora do Comitê Internacional contra o Apedrejamento, sediado na Alemanha.

Segundo comunicado de imprensa enviado ao Correio ontem pelo comitê, os filhos de Ashtiani estão muito preocupados com os recentes desdobramentos do caso. O organismo lembrou que o promotor Nobacht tem feito declarações públicas, nas quais demanda a execução da iraniana e estima para os próximos 10 dias o cumprimento da sentença. ;Apelamos a todas as organizações de direitos humanos, governos e indivíduos que mantenham pressão sobre o regime islâmico, até que a senhora Ashtiani esteja livre;, disse Mina. A também ativista Maryam Namazie, porta-voz da organização não governamental Solidariedade ao Irã (baseada em Londres), admitiu à reportagem que a execução provavelmente é iminente, mas não perdeu as esperanças de salvar a mulher. ;Não se esqueça do poder absoluto do homem ao encarar o medievalismo e a barbárie. Enquanto Sakineh permanecer viva, teremos chance de salvá-la e faremos todo o possível para isso;, prometeu.

O advogado de Sakineh desembarcou ontem na Turquia e foi recebido pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). Mohammad Mostafaei fugiu do Irã após ter sido interrogado por autoridades do país durante horas, em 23 de julho passado. Ao chegar a Ancara, ele terminou detido, por irregularidades no passaporte. A Acnur explicou que Mostafaei terá a opção de solicitar asilo ao governo turco. (RC)