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Inundações no Paquistão deixam 2,5 milhões de deslocados, mortos podem chegar a 1.5 mil

A preocupação com os riscos de epidemias aumentou hoje (2/8) no Paquistão, assolado pelas maiores inundações em 80 anos, que deixaram 2,5 milhões de deslocados e nas quais 1,5 mil pessoas podem ter morrido.

Precipitações excepcionais ligadas à monção provocaram inundações e deslizamentos de terra, destruíram milhares de casas e devastaram terras agrícolas em uma das regiões mais pobres do Paquistão, já afetada pela violência dos talibãs e dos movimentos ligados à Al-Qaeda.

Segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, as inundações no noroeste do Paquistão deixaram 2,5 milhões de deslocados em todo o país desde a semana passada. "Nas zonas mais afetadas, povoados inteiros foram destruídos pelas águas", acrescentou, indicando que milhares de pessoas "perderam tudo".

Segundo o Programa Alimentar Mundial da ONU, em quatro distritos do noroeste cerca de 980 mil pessoas estão desabrigadas ou desalojadas, um registro que poderá chegar a um milhão. Cerca de 80 mil casas ficaram completamente destruídas e 50 mil foram danificadas. Infraestruturas e plantações também foram afetadas.

O ministro da Informação da província de Khyber Pakhtunkhwa, no noroeste do país, Mian Iftikhar Hussain, anunciou que 774 mortes tinham sido registradas, mas, acrescentou, "o número total de pessoas mortas nas inundações se situa entre 1,2 mil e 1,5 mil".

Segundo Anwer Kazmi, porta-voz da maior associação de ajuda humanitária do país, a Edhi Foundation, pelo menos 1.256 pessoas morreram. No distrito de Swat foram registradas 475 mortes.

De acordo com as autoridades locais, 53 pessoas morreram na Caxemira paquistanesa (norte); 26, na província do Baluchistão (sul); e 49, na província de Penjab (leste), a mais populosa do país.

As autoridades alertaram para uma epidemia de cólera e de gastrenterite em razão da falta de água potável.

"Estimamos que cerca de 100.000 pessoas, crianças em sua maior parte, contraíram cólera e doenças gástricas", declarou Syed Zahir Ali Shah, ministro da Saúde da província de Khyber Pakhtunkhwa.

"As necessidades mais urgentes continuam sendo comida, água potável, barracas e cuidados médicos", indicou em Genebra a Organização de Coordenação de Questões Humanitárias (OCHA).

Frente à magnitude da catástrofe, as promessas de ajuda começaram a ser lançadas. A Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho pediram US$ 16,3 milhões. A Grã-Bretanha prometeu US$ 8 milhões.

Os Estados Unidos prometeram conceder uma ajuda de US$ 10 milhões e o envio de helicópteros, barcos e material de socorro. Nesta segunda, helicópteros americanos resgataram mais de 700 paquistaneses e transportaram mais de cinco toneladas de rações alimentares, segundo Washington.

A ONU se comprometeu a conceder até US$ 10 milhões, enquanto a China - também castigada por inundações no nordeste - anunciou que contribuiria com US$ 1,5 milhão. A Comissão Europeia havia anunciado, no sábado, a liberação de uma cifra de 30 milhões de euros em ajuda humanitária para o Paquistão.

Enquanto isso, centenas de desabrigados permanecem em abrigos temporários em Peshawar, a principal cidade da região, e em Muzafarabad, capital da Caxemira paquistanesa.

Pelo segundo dia consecutivo, centenas de afetados pedem aos gritos ajuda do governo. "Minha família encontrou refúgio em uma escola, mas não recebemos nem água potável, nem comida, nem medicamentos", disse à AFP Fahimud Din, comerciante de 27 anos da região vizinha a Peshawar. "Meu filho está doente de cólera, mas não há médicos", acrescentou.

O exército e o Centro Nacional de Gestão de Catástrofes, encarregados das operações, destacaram ter socorrido mais de 28 mil pessoas na província de Khiber Pajtunjua.

Segundo as mesmas fontes, 29.529 lares foram destruídos no noroeste.

Os serviços paquistaneses de meteorologia destacaram que essas foram chuvas "sem precedentes" e anunciaram que, durante as próximas duas semanas, pode-se esperar uma precipitação de até 200 milímetros na região.

Os serviços paquistaneses de meteorologia anunciaram até 200 milímetros de água nessa região para as próximas duas semanas.

"A próxima semana será crítica. Se as fortes chuvas persistirem, existe um risco grande de que as inundações se estendam para o sul, na província de Sind", indicou Ateeb Siddiqui, diretor de operações do Crescente Vermelho do Paquistão.