O presidente sírio Bashar al Assad chegou nesta sexta-feira (30/7) ao Líbano, na primeira visita desde o assassinato do ex-primeiro-ministro Rafic Hariri, na companhia do rei da Arábia Saudita, Abddullah, para uma missão conjunta destinada a aplacar a tensão política no país.
Os dois dirigentes foram recebidos pelo presidente libanês Michel Suleimán, o primeiro-ministro Saad Hariri, o presidente do parlamento Nabih Berri, e vários ministros, entre eles um representante do Hezbollah xiita, apoiado por Damasco.
A presença destas personalidades no Líbano está sendo interpretada como uma tentativa de diminuir as tensões depois das declarações feitas, em 22 de julho, pelo chefe do Hezbollah xiita, Hassan Nasrallah, que afirmou que os membros do partido xiita serão acusados pelo Tribunal Especial para Líbano pelo assassinato de Hariri.
"Antes de sua viagem a Washington (em maio), Saad Hariri (primeiro-ministro libanês e filho de Rafic) me visitou e me disse que membros indisciplinados do Hezbollah serão designados pela ata de acusação do Tribunal Especial para o Líbano", afirmou Nasralá em entrevista por videoconferência.
Em março passado, a promotoria do Tribunal havia interrogado membros do Hezbollah.
Rafic Hariri, ex-primeiro-ministro libanês que se opôs à hegemonia de Damasco no Líbano, morreu, junto com outras 22 pessoas, em um atentado com carro-bomba em Beirute, em 14 de fevereiro de 2005. A Síria sempre negou qualquer envolvimento nesse crime.
Criado em 2007 por uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, o Tribunal Especial para o Líbano deve julgar os supostos autores dos ataques terroristas nesse país, entre eles os autores do assassinato de Hariri.
A perspectiva de um questionamento do grupo armado faz temer que voltem a ocorrer as violências interconfessionais de 2008 entre partidários do atual primeiro-ministro e o filho de Hariri, o sunita Saad Hariri, e os do partido xiita, que deixaram uma centena de mortos.
Também existem temores de uma possível nova guerra entre o Hezbollah e Israel, que, nos últimos meses, acusou o partido xiita de armazenar milhares de foguetes. "As duas próximas semanas serão cruciais", afirmou Shadi Hamid, diretor do centro de pesquisas Brookings Center. "Há um risco de escalada, de violências sectárias e todos os atores implicados estão conscientes deste risco", acrescentou.
"Tomam medidas preventivas para desativar a crise antes que esta escape de seu controle nas próximas semanas e meses", acrescentou.
Os dois primeiros informes da comissão de investigação da ONU concluíram que há provas convergentes que comprometem os serviços secretos e libaneses, mas Damasco negou qualquer envolvimento.
Depois do assassinato de Hariri, as relações entre a Síria, que apoia o Hezbollah, e a Arábia Saudita, muito ligada à família Hariri, se distenderam e os dois países procederam a uma aproximação em 2009.
Para Fuad Siniora, nomeado primeiro-ministro depois do assassinato de Hariri e atualmente deputado, as visitas dos dirigentes árabes refletem a difícil conjuntura pela qual passa o Líbano. "A tensão atual é furto de intimidações mais que a realidade, mas também não quero subestimar que haja tentativas de levar o Líbano a um conflito", afirmou Siniora à AFP.
Por sua parte, um conselheiro de Saad Hariri deu pouca importância aos riscos de novos atos de violência. "Não vejo por que a questão do tribunal deverá provocar uma conflito", declarou Mohamed Chatah.