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Sanções dificultam ainda mais as transações comerciais com Irã e com terceiros países

Empresários brasileiros que acompanharam o presidente Lula a Teerã admitem que ficou "ainda mais difícil" exportar sem a opção de obter garantia de crédito com bancos do velho continente

As sanções adicionais aprovadas pela União Europeia entraram em vigor ontem com o objetivo de pressionar o Irã a congelar seu programa nuclear (1) atingindo a área mais sensível para qualquer governo: a economia. O embargo mira a indústria do petróleo, que é responsável por 80% das exportações do país, mas também proíbe transações de instituições financeiras europeias com o governo, bancos e o Banco Central iranianos. Com essas dimensões, o cerco iniciado pelos Estados Unidos e reforçado pelo bloco europeu tende a afetar não só apenas a República Islâmica, mas todos aqueles que já mantenham ou queiram ampliar o intercâmbio comercial com o país, como o Brasil.

Nos últimos 10 anos, as exportações brasileiras para o Irã mais do que dobraram, e só nos primeiros seis meses de 2010 a balança comercial já registra um movimento 70% maior que o acumulado no mesmo período do ano passado. O interesse em aumentar mais essa interação foi demonstrado nos últimos meses, quando o presidente Mahmud Ahmadinejad veio ao Brasil com cerca de 300 empresários, em novembro, e o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, levou uma comitiva de quase 90 homens de negócios a Teerã, semanas antes da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Entretanto, apesar de o chanceler Celso Amorim ter destacado que o Brasil não tem obrigação de obedecer as sanções unilaterais adotadas pelos Estados Unidos e pela União Europeia, as novas restrições impostas pela UE podem atrapalhar esses esforços de aproximação. Isso porque a maioria dos empresários brasileiros que poderiam investir em exportações para o Irã ficará com ainda menos possibilidades de financiamento. ;A maior parte das nossas operações tem uma triangulação (utilização de instituições financeiras de um terceiro país para poder fechar negócio) via Estados Unidos. Com o Irã, já sabíamos que isso não seria possível;, explica Martin Hepp, gerente de exportação de uma empresa de médio porte de maquinário agrícola, que acompanhou Miguel Jorge na viagem a Teerã.

Segundo Hepp, sua empresa, assim como várias outras que integravam a comitiva, foi para o Irã ;tentando buscar uma arquitetura financeira para escapar do embargo; americano. ;Eu vi mercado, vi pessoas querendo comprar, e a Europa era uma possibilidade para fazer essa triangulação. Agora, com essas novas sanções, fica muito complicado;, lamenta. O empresário Rogério Cunha, que também esteve na comitiva, tem esperança de que as possibilidades anunciadas pelo governo durante a viagem amenizem o impacto da ;retirada; de bancos europeus de futuras negociações. ;Na época, foi dito a nós que as intermediações seriam viabilizadas pelo governo brasileiro, por meio do Banco do Brasil ; então não teriam impacto as sanções aos bancos europeus ou americanos;, lembra Cunha, diretor de exportações de uma empresa de motores elétricos. Ele, contudo, assume que, sem o apoio oficial, ;fica muito mais difícil; fechar negócios.

Crédito

Em maio, quando esteve em Teerã, Lula prometeu disponibilizar, nos próximos cinco anos, uma linha de crédito de 1 bilhão de euros para a exportação de alimentos para o Irã. Em 2009, o governo brasileiro abriu negociações com o Export Development Bank of Iran (EDBI) para facilitar a obtenção de crédito para investimentos, contornando as sanções já aplicadas pelos EUA. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), assume que o fato de a nova decisão da UE anular possibilidades com os bancos europeus pode afetar o comércio com os iranianos. ;Mas afeta menos porque exportamos mais alimentos, e não petróleo;, observa um alto funcionário do MDIC, destacando o fato de os alimentos não estarem entre os produtos sujeitos a embargo direto. Hoje, 44% dos produtos exportados para o Irã é carne bovina, seguido de açúcar bruto, milho e óleo de soja.

1 - Teerã ;convoca; Brasil e Turquia
O Irã não abre mão da participação do Brasil e da Turquia nas negociações com as grandes potências sobre seu programa nuclear, embora a inclusão dos dois países enfrente resistências por parte do grupo ;cinco mais um; ; composto pelos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia, Reino Unido, França e China) mais a Alemanha. O presidente Mahmud Ahmadinejad reafirmou a disposição de retomar em setembro as conversações, a despeito da aprovação de uma nova rodada de sanções pelo conselho, por iniciativa de Washington. Mas insistiu que só voltará à mesa ;sob condições;, entre elas a inclusão dos governos brasileiro e turco, que em maio mediaram um acordo para viabilizar a troca de urânio enriquecido ; um dos pontos do impasse. A fórmula foi rejeitada como ;insuficiente; pelas potências, que exigem de Teerã a suspensão do enriquecimento, conforme resolução anterior do conselho.