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Vítimas de pedofilia: o Vaticano deveria abrir seus arquivos

O Vaticano deve abrir seus arquivos sobre os abusos sexuais cometidos por seus padres, afirma um grupo austríaco de defensa de vítimas, afirmando que as novas regras da Igreja católica sobre a condução desses casos são insuficientes.

"A justiça eclesiástica não nos interessa. O Vaticano ainda não está disposto a abrir seus arquivos e entregar às autoridades civis os registros relativos aos abusos sexuais", declarou à AFP o porta-voz do grupo "Vítimas da violência da Igreja", Franz-Jakob Purkarthofer.

Outro grupo, "Wir sind Kirche" (Nós somos a Igreja), que representa o setor progressista da Igreja católica na Áustria, também considerou as novas medidas insuficientes.

"As medidas não vão às raízes das estruturas da Igreja. Esses abusos são, na realidade, abusos de poder de uma forma sexual", afirmou o porta-voz Peter Hurka.

"Deveria haver mudanças estruturais, que limitem e controlem o poder de todos os hierarcas da Igrjea, incluindo os bispos e o Papa", acrescentou.

[SAIBAMAIS]O Vaticano anunciou nesta quinta-feira normas mais rígidas contra a pedofilia dentro do clero católico, introduzindo procedimentos acelerados para os casos mais urgentes, depois de ter sido acusado de acobertar casos registrados em vários países.

As novas normas preveem "procedimentos acelerados para tratar os casos mais urgentes e graves, permitindo a designação de laicos nos tribunais eclesiásticos", indicou o Vaticano em um documento intitulado "normas sobre os crimes mais graves" apresentado pelo porta-voz, o padre Federico Lombardi. A prescrição dos fatos aumenta de dez para vinte anos depois que a vítima atinge a maioridade.

O Vaticano decidiu também equiparar a pedofilia aos abusos contra pessoas com problemas mentais, com o que estende assim suas novas normas para esses adultos. Além disso, o Vaticano acrescentou o crime de pedopornografia.

No entanto, as novas normas não incluem uma "ordem explícita" às igrejas locais envolvidas em investigações de abusos sexuais para que se dirijam à justiça civil. Esta era exatamente uma das principais exigências dos defensores das vítimas de pedofilia.