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Madri recebe hoje 11 ex-prisioneiros cubanos

Regime cumpre acordo com a Igreja e anuncia mais três nomes de dissidentes libertados

As autoridades cubanas não revelaram o horário exato do embarque de 11 presos políticos para Madri. Durante todo o dia de ontem, familiares mantinham-se de prontidão e eram obrigados a se submeter à falta de informação. Na cidade de Amancio Rodríguez, a 640km de Havana, a casa de Oleidys García ; mulher do jornalista Pablo Pacheco ; estava sob responsabilidade de uma amiga, chamada Maria. Por telefone, ela afirmou ao Correio que falou com Oleidys na manhã de ontem. ;Oleidys me contou que está em uma instalação do Ministério do Interior, enquanto Pablo aguarda no Hospital Nacional de Havana. Disse-me que ambos se encontrarão dentro do avião, mas ela não sabe o horário do voo;, relatou. A reportagem apurou com uma ativista do movimento Damas de Branco que os presos e familiares se reuniriam às 14h de ontem (15h em Brasília) no Aeroporto Internacional José Martí, em Havana.

O ministro das Relações Exteriores da Espanha, Miguel Ángel Moratinos, disse à agência France-Presse que os 11 dissidentes desembarcarão em Madri ainda hoje, em voos das companhias Air Europea e Iberia. ;Creio que, segundo os últimos dados, serão 11 presos políticos cubanos com seus familiares. Ainda não sabemos o número de parentes, mas rondará entre 62 e 65;, declarou. A Arquidiocese de Havana anunciou que três nomes foram acrescentados à lista de prisioneiros que serão libertados ;em breve;.

Após receberem penas respectivas de 25, 27 e 20 anos, Jesús Mostafá Felipe, Omar Rodríguez e Antonio Díaz se somarão ao grupo dos 17 dissidentes com a libertação já anunciada. Todos eles são considerados prisioneiros de consciência por parte da organização não governamental Anistia Internacional.Em entrevista à agência France-Presse, Irene Vieira ; mulher do dissidente Julio Galvez ; admitiu que não dorme há dias. Ontem, ela passou parte do dia arrumando as malas. ;Continuaremos lutando por aqueles que ficarem para trás;, prometeu. A expectativa é de que Galvez seja solto em uma próxima leva.

A libertação dos 52 prisioneiros políticos ; 20 deles em caráter imediato ; é vista por analistas como uma tentativa do regime de Raúl Castro de barganhar vantagens políticas e comerciais. ;Raúl sente-se pressionado. Ele provavelmente teme que a frente de apoio da América Latina a Cuba se desvaneça e, por isso, espera manter boas relações com a Espanha e a União Europeia;, explica o espanhol Joaquín Roy, diretor do Centro de União Europeia (UE) da Universidade de Miami e especialista em Cuba. ;Antes de falarmos em abertura, precisaremos ver qual será o próximo gesto de Raúl. Esse foi um ato político. O próximo será econômico?;, questiona.

Barganha
Por telefone, William LeoGrande ; professor da American University (em Washington) ; afirma que a motivação do governo cubano é ;aprimorar as relações diplomáticas com a UE;. ;Castro também pretende melhorar as relações internas com a Igreja Católica e fazer um gesto para os Estados Unidos. Desde que Barack Obama tornou-se presidente, ele tem buscado uma concessão cubana na área dos direitos humanos, antes de fortalecer as relações bilaterais com a ilha;, observa.

LeoGrande admite que o acordo entre Castro e o cardeal Jaime Ortega é significativo, por se tratar da maior libertação de presos desde a visita do papa João Paulo II a Havana, em 1998. ;É importante destacar a vontade do regime em aceitar a Igreja como legítima interlocutora da sociedade civil para discutir assuntos políticos;, diz o analista. Segundo ele, não há dúvidas de que Cuba enfrenta uma grave crise. ;Os cubanos estão tentando fortalecer as relações comerciais com a União Europeia. Também é óbvio que eles desejam contatos com os EUA, mas a questão dos direitos humanos tem sido um obstáculo;, acrescenta.

Fidel Castro na TV
Com boa aparência, vestindo casaco azul e camisa quadriculada, o ex-presidente cubano Fidel Castro apareceu na noite de ontem em uma entrevista gravada pela TV estatal do país. Foi a primeira exibição em vídeo do líder em um ano. Nas imagens, Fidel pôde ser visto sentado, conversando sobre a situação no Oriente Médio e na Coreia do Norte, com o apresentador do programa Mesa redonda. No sábado, um site publicou fotos da recente ida de Fidel ao Centro Nacional de Investigações Científicas (CNIC) ;su a única aparição pública desde que se afastou do poder, em julho de 2006, após a cirurgia no intestino. Fidel permanece como primeiro-secretário do Partido Comunista e recebe vez por outra personalidades amigas em seu retiro. Também escreve com frequência suas ;reflexões; sobre assuntos atuais.

Ouça entrevista com William LeoGrande (em inglês) e veja lista com os nomes de 20 presos políticos que serão soltos em breve