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CPI: presidente do Sudão é suspeito de genocídio em Darfur

Os presidente do Sudão, Omar al-Beshir, já suspeito por juízes da Corte Penal Internacional (CPI) de crimes de guerra e crimes contra a humanidade em Darfur, é objeto, a partir de agora, de uma ordem de detenção por genocídio - uma "vitória" para os rebeldes desta região do Sudão.

De acordo com sentença divulgada nesta segunda-feira, a Corte "considera que há provas suficientes para (...) julgar al-Beshir responsável criminalmente (...) por genocídio".

Um mandado de detenção contra ele por crimes de guerra e crimes contra a humanidade foi expedido em 4 de março de 2009.

A decisão desta segunda-feira representa a primeira ordem de detenção por genocídio expedida pela CPI desde o início de seu funcionamento, em 2003.

Al-Beshir, de 66 anos, é o primeiro chefe de Estado em exercício a ser objeto de uma ordem de detenção da CPI, primeiro tribunal internacional permanente encarregado de julgar os autores de crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio.

Seus 21 anos como presidente do Sudão foram marcados por guerras civis, no sul até a paz de 2005, e na região ocidental de Darfur desde 2003.

Esses anos também foram marcados por relações tumultuadas com países ocidentais.

Na primeira ordem de detenção, Beshir era suspeito de autoria indireta ou coautoria de cinco crimes contra a humanidade: assassinato, extermínio, deslocamento forçado, tortura e violação. Também estavam incluídas duas acusações de crimes de guerra: dirigir ataques intencionais contra civis, e saque.

Para a promotoria, o presidente sudanês é responsável pelo assassinato de pelo menos 35 mil civis pertencentes a três etnias, entre 2003 e 2005, e pela expulsão e violação de centenas de milhares de civis.

Numa primeira reação, o ministro sudanês da Informação, Kamal Obeid, afirmou que a CPI é "tribunal político".

Por sua vez, o Movimento pela Justiça e a Igualdade, o mais militarizado dos grupos rebeldes de Darfur, considerou a decisão uma "vitória".

Nascido em 1944 de uma família camponesa a uma centena de quilômetros ao norte de Cartum, Omar Hassan Ahmed al-Beshir e um grupo de oficiais derrotaram no dia 30 de junho de 1989 o governo democraticamente eleito de Sadek al-Mahdi. O golpe de Estado foi apoiado pela Frente Islâmica Nacional, partido de seu mentor Hassan al Turabi, que se tornou, depois, o mais ferrenho opositor.

Sob a influência de Turabi, Beshir orientou o Sudão para um islamismo radical.

Na década de noventa, Cartum converteu-se em plataforma da internacional islamita, com a presença de ;jihadistas; que combateram no Afeganistão, entre eles o chefe da Al-Qaeda, Osama Bin Laden.

Depois do distanciamiento de Turabi, Beshir tentou afastar-se do islamismo radical, melhorando suas relações políticas com o Ocidente, tecendo laços econômicos fortes com as potências do Golfo e da Ásia.