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Dissidente cubano empreende lenta recuperação, mas ainda cheia de riscos

O dissidente cubano Guillermo Fariñas começou nesta sexta-feira (9/7) um lento processo de recuperação que poderá levar meses, um dia depois de pôr um ponto final à greve de fome de 135 dias, que deixou muitas sequelas, correndo "grave risco de morrer", informou seu médico pessoal, Ismely Iglesias.

"Até que seja dissolvido o trombo na jugular, os riscos estão presentes", explicou Iglesias à AFP por telefone, a partir da cidade de Santa Clara - 280 km a leste de Havana -, onde Fariñas, de 48 anos, está hospitalizado.

O médico, também da dissidência, destacou que enquanto "essa complicação não for solucionada", o que pode levar "um mês e meio", ou ele será submetido a uma cirurgia" para extrair o trombo, ou seu estado continuará "muito grave", não conseguindo completar o processo de recuperação.

Extremamente magro, Fariñas, que demonstra fisicamente as sequelas das 23 greves de fome que realizou desde 1995, concluiu seu jejum de protesto de quatro meses e meio, depois do compromisso do Governo de Raúl Castro de libertar 52 presos políticos, cinco deles imediatamente.

Depois de anunciar o fim de sua greve em comunicado, a partir do quarto de terapia intensiva del hospital, Fariñas, psicólogo, jornalista e um dos mais beligerantes ativistas da oposição, já começou a ingerir água.

"Agora, deve começar a receber sucos. É um processo gradual e complexo que pode durar 15 dias, até chegar aos (alimentos) sólidos. A recuperação pode levar muito tempo", comentou o médico, precisando que, em seguida, será submetido a regime de exercícios e fisioterapia para que recupere a força muscular.

Fariñas, ex-militar das tropas de elite e militante da União de Jovens Comunistas que foi para as fileiras da oposição, em 1990, "passou a noite com muitas dores", mas "seus sinais vitais estão estáveis e não tem febre", descreveu sua esposa Clara Pérez.

"Agora temos que dirigir nossos esforços para salvar a vida de Guillermo. Esta batalla é tão difícil quanto a anterior", declarou à AFP sua porta-voz Licet Zamora, em referência ao trabalho de dissuasão realizado por familiares e opositores para que acabasse com o jejum, principalmente depois do anúncio das libertações.

Fariñas iniciou sua greve de fome no dia 24 de fevereiro, um dia depois da morte do preso opositor Orlando Zapata após greve de fome de 85 dias.

Nesta sexta-feira, em entrevista à rádio nacional de Espanha, disse "ter ficado surpreendido" com o anúncio das libertações, afirmando que ao terminar a greve busca "desatar as mãos dos que estão negociando com o governo cubano" em favor dos presos.

No entanto, deixou entrever a possibilidade de retomar o jejum, se o governo não cumprir o compromisso assumido.