Jornal Correio Braziliense

Mundo

'Jornada de silêncio' na imprensa italiana contra a Lei da Mordaça

A Itália realizou nesta sexta-feira (9/7)uma "Jornada de Silêncio" sem a circulação de jornais, nem o noticiário de rádio e televisão, devido a uma greve de jornalistas contra um projeto de lei do governo de Silvio Berlusconi, a chamada "lei da mordaça", que limita as escutas telefônicas e sua publicação.

Para a Federação Nacional da Imprensa (FNSI, sindicato nacional de jornalistas), que lançou a inciativa, trata-se de "gesto simbólico para mostrar o silêncio que imporá a lei à informação".

A quase totalidade dos jornais não apareceu nas bancas, com exceção de Il Giornale, que pertence à família Berlusconi.

Desde as 07h (2h) e por 24 horas, os serviços das agências de informação deixaram de divulgar notícias e os sites não foram atualizados.

Apesar do mundial de futebol na África do Sul, os diários desportivos também observaram a paralisação, assim como as agências nacionais de notícias e os informativos da televisão, tanto na rede pública quanto na privada, entre eles os do grupo Mediaset, também de propriedade de Berlusconi.

O canal de informação contínua "Sky Tg24", do magnata Rupert Murdoch, limitou-se à leitura de boletins informativos a cada hora e decidiu programar documentários, entre eles um sobre os efeitos sociais do tráfico da cocaína na Colômbia e no México.

Além da greve da imprensa, houve paralisação dos transporte público em várias cidades, entre elas Roma, que viveu um dia muito complicado.

A greve da imprensa tem o apoio dos editores e de boa parte da opinião pública, que temem um ataque à liberdade de imprensa e, sobretudo, impedir a divulgação de informações incômodas para Berlusconi, conhecido por sua agitada vida sentimental.

A Federação Europeia de Jornalistas demonstrou apoio aos colegas italianos contra a medida que termina, segundo o comunicado, "por proibir a publicação de notícias sobre processos judiciais".

O projeto de lei foi aprovado no Senado no dia 10 de junho e ainda deve pasar pela Câmara de Deputados.

A norma prevê até dois meses de prisão e multa que pode chegar a 464.700 euros (588 mil dólares) para os editores de jornais e meios audiovisuais que divulguem escutas telefônicas ou gravações durante uma investigação judicial, enquanto que os jornalistas seriam punidos com até 60 dias de prisão.

Berlusconi defende o texto em nome do respeito à vida privada e dos direitos de defesa, mas a oposição de esquerda e grande parte dos meios vêm nisso uma forma de calar a imprensa.

A norma foi duramente criticada pela magistratura, considerando que afeta gravemente a luta contra a máfia, basada em sofisticados sistemas de escuta.