O ex-ditador argentino Jorge Videla assumiu nesta segunda-feira (5/7) responsabilidade por todas as ações cometidas, ao se pronunciar ante um tribunal da província de Córdoba que o acusa de realizar um plano de extermínio de opositores durante a ditadura.
"Assumo plenamente minhas responsabilidades militares por todas as ações do exército argentino nesta guerra interna, com total prescindência dos que foram meus subordinados e se limitaram a cumprir minhas ordens", disse o ex-presidente de fato entre 1976 e 1981, comprovou a AFP.
Videla, de 84 anos, negou-se a declarar sobre fatos específicos ligados ao julgamento, alegando que o tribunal civil "não tem competência e jurisdição", sustentando que se trata de "fatos protagonizados pelo exército como parte de uma guerra interna contra o terrorismo subversivo".
Também alegou que se trata de "coisa julgada", em referência ao processo contra as juntas militares de 1985, no qual foi condenado à prisão perpétua por crimes contra os direitos humanos, durante a última ditadura (1976-1983).
Videla foi acusado como máxima autoridade do governo de fato que implementou um "plano clandestino de extermínio de dissidentes políticos", por "imposição de tormentos agravados, tormentos seguidos de morte e homicídio qualificado", leu um membro do tribunal.
"Nenhuma", respondeu Videla ao ser questionado sobre sua renda, no início da segunda sessão do julgamento oral nesta segunda-feira, que levou o ex-ditador pela primeira vez ao banco dos réus desde 1985.
O atual processo investiga o fuzilamento de 31 presos políticos em cadeias de Córdoba (centro) em 1976, a maioria executada durante traslados autorizados pela justiça, em meio a falsas tentativas de fuga, plantadas para justificar os assassinatos, segundo o processo.
Seis dos envolvidos são acusados também do sequestro e tortura de outras seis vítimas em Córdoba.
Também depôs o ex-chefe militar Luciano Benjamín Menéndez que, em julgamentos recentes, foi condenado à prisão perpétua em duas ocasiões por crimes de lesa-humanidade.
"Esse é o único país que julga seus militares vitoriosos", disse Menéndez, afirmando que a ditadura, em sua opinião, evitou que "terroristas marxistas conduzidos do exterior assaltassem as instituições da República".
Videla foi indultado em 1990 pelo então presidente Carlos Menem (1989-1999), cinco anos depois do julgamento das juntas militares.
Em 1998, foi processado por roubo de bebês (crime não afetado pelo indulto) e três anos mais tarde por sua responsabilidade no Plano Côndor, de coorderação repressiva das ditaduras sul-americanas nos anos 1970 e 1980.
Depois da anulação em 2003 da lei da anistia, somou outras condenações. As audiências nos tribunais de Córdoba se estenderão até o fim do ano. Em torno de 60 testemunhas devem dar seus depoimentos.