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Começa o julgamento do ex-ditador argentino Jorge Videla

O ex-ditador argentino Jorge Videla voltou, nesta sexta-feira (2/7), ao banco dos réus pela primeira vez desde 1985, em um julgamento oral sobre o fuzilamento de presos políticos em prisões da província de Córdoba durante a ditadura militar.

Videla, de 84 anos, é julgado junto com outros 24 acusados, incluindo o ex-chefe militar Luciano Menéndez, condenado à prisão perpétua em outros dois julgamentos recentes.

A causa investigada é o fuzilamento de 31 presos políticos em prisões de Córdoba (centro) em 1976, a maioria executados durantes traslados autorizados por um juiz, em meio a supostas tentativas de fuga para justificar seu assassinato, segundo o processo.

Seis dos denunciados são acusados, ainda, do sequestro e tortura de outras seis vítimas em Córdoba.

Na leitura das acusações, entre outros fatos, detalhou-se que em 30 de abril de 1976, três presos políticos, inclusive uma mulher, foram separados do restante dos detentos na penitenciária de Córdoba e, "simulando uma tentativa de fuga e desacato aos guardas, teriam executado os presos mediante o uso de armas de fogo".

Ao concluir a primeira parte da acusação, Videla pediu a palavra, mas o presidente do tribunal, Jaime Díaz Gavier, disse que não cabia naquele momento, enquanto familiares das vítimas choravam à medida que eram lidas as acusações.

"Esta é uma das causas mais emblemáticas e importantes. Videla está condenado desde o julgamento das juntas, mas é muito bom que hoje também compareça em outra causa como esta. A dimensão dos seus crimes não tem limite", disse à AFP o secretário argentino dos Direitos Humanos, Eduardo Luis Duhalde, antes do começo da audiência.

Quatrocentas pessoas expressaram seu repúdio ao ex-ditador na entrada dos tribunais de Córdoba (700 km ao norte), uma das províncias mais castigadas pelo terrorismo de Estado durante a ditadura (1976/83).

Durante as audiências, que se estenderão até o fim do ano, espera-se que deponham 60 testemunhas.

O ex-ditador, que comandou em 1976 o golpe de Estado que instaurou um regime militar, está detido por outras causas, como violações dos direitos humanos.

Trata-se do primeiro julgamento que Videla enfrenta desde 1985, quando foi condenado à prisão perpétua no histórico julgamento das juntas militares, apesar de, em 1990, foi indultado pelo então presidente Carlos Menem.

Cerca de 30 mil pessoas desapareceram durante a ditadura (1976/83), segundo entidades humanitárias.