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Presidencial alemã: Merkel, enfraquecida, impõe com dificuldade seu candidato

A chanceler Angela Merkel foi humilhada nesta quarta-feira (30/6), com seu candidato Christian Wulff, eleito presidente da Alemanha apenas no terceiro e último turno de um pleito com sabores de psicodrama.

A eleição do chefe de Estado alemão é realizada, geralmente, na discrição, mas os grandes eleitores aproveitaram para demonstrar seu descontentamento em relação à chanceler e sua coalizão de centro-direita.

Aos 51 anos, Wulff, chefe do governo regional da Baixa Saxônia (norte), tornou-se o décimo e mais jovem presidente do pós-guerra, ao final de uma eleição de nove horas, a mais longa da história do país.

O homem, sorridente, conseguiu, finalmente 625 votos no terceiro turno, no qual bastaria a maioria simples, contra 494 votos dados ao candidato da oposição social-democrata/ecologista, o muito popular ex-pastor e dissidente alemão-oriental, Joachim Gauck, 70 anos.

O candidato de Merkel fracassou em obter a maioria absoluta exigida nos dois turnos precedentes na Assembleia federal, um colégio de 1.244 grandes eleitores, no qual a coalizão de governo dispunha, teoricamente, da maioria.

"Choque", "afronta violenta" ou "humilhação para a sra Merkel": a votação foi considerada uma advertência dirigida à coalizão de governo desde outubro, mas sem consequências maiores para seu futuro.

"É uma derrota de caráter psicológico e uma perda de prestígio para a sra Merkel", afirmou à AFP o cientista político Nils Diederich, da Universidade Livre de Berlim. O escrutínio, através do qual a chanceler esperava enriquecer-se politicamente, apostando na solidariedade e na lealdade de seu campo, "reflete o ceticismo local" em relação ao governo.

Quatro deputados liberais haviam anunciado antes da votação que apoiariam o carismático Joachim Gauck. Mas, visivelmente, "foram mais numerosos que o previsto os que tiveram a coragem de manifestar seu descontentamento", destacou o especialista.

Seja a ajuda concedida à Grécia, o plano de resgate do euro, a política orçamentária e fiscal ou a saúde, os assuntos que levam à discórdia se multiplicam entre conservadores e liberais.

Os especialistas esperam que a coalizão dê continuidade a seu trabalho bem ou mal até o final da legislatura, em 2013.

"Para Merkel, o importante, é que o problema seja solucionado", mas "o governo vai continuar enfrentando" fortes diferenças ideológicas entre as duas partes, comentou o cientista político Klaus Schubert.

No Reichstag, o anúncio inesperado de um terceiro turno tomou, aos olhos da imprensa, a dimensão de um "putsch", um golpe, acompanhado de uma tela gigante por inúmeros turistas no exterior do prédio, não longe de um gigantesco espaço destinado à transmissão das partidas do Mundial de futebol.

Merkel, que tentou esconder sua confusão com um sorriso forçado, ao final do segundo turno, fez referência, segundo a edição on-line do jornal Bild, ao Mundial e às performances da seleção nacional para pedir a seus seguidores que "enviassem um sinal forte no terceiro turno" em favor de Wulff.

Este barão do partido cristão-democrata (CDU) de Merkel era muito menos popular nas pesquisas do que seu adversário Joachim Gauck, que dirigiu, até 2000, o serviço de arquivos da antiga Stasi, a polícia secreta da extinta RDA.

A eleição era necessária desde a demissão, no final de maio, de Horst K;hler, ex-diretor do FMI, muito querido pelos alemães. Ele decidiu sair após uma polêmica desencadeada por suas propostas controversas sobre o compromisso militar alemão no exterior.

Desde a criação da República Federal alemã, em 1949, dois presidentes, Gustav Heinemann e Roman Herzog foram eleitos no terceiro turno.