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Guiné celebra primeiras eleições livres desde a independência, em 1958

CONACRI - A Guiné, uma ex-colônia francesa, celebrou neste domingo (27/6) as primeiras eleições livres desde sua independência, em 1958, impaciente por ver como os militares deixarão o poder, nove meses depois de uma matança de 156 opositores por parte do exército e de meio século de ditaduras.

As seções eleitorais começaram a fechar às 18h00 locais (15h00 de Brasília) deste domingo, após uma votação que transcorreu aparentemente sem incidentes.

O primeiro turno destas eleições presidenciais representam um acontecimento histórico, depois de uma alternância de ditaduras. Os resultados provisórios não devem ser conhecidos antes de quarta-feira e os definitivos devem levar oito dias para ser divulgados.

Se nenhum dos candidatos obtiver maioria absoluta, um segundo turno será celebrado em 18 de julho.

"Em 50 anos é a primeira vez que a Guiné tem eleições livres e transparentes", lembrou o general golpista Sekuba Konate, que preside a Guiné desde a transição, iniciada em dezembro.

Ele se disse "orgulhoso" por ter cumprido sua "palavra", dada em 15 de janeiro de celebrar eleições presidenciais - que não contou com a candidatura de nenhum militar ou governante - e pediu "unidade e solidariedade".

No total, 4,2 milhões de guineanos foram convocados a votar para eleger seu presidente entre 24 candidatos: 23 homens e uma mulher, todos civis. Três candidatos despontam como favoritos: os ex-primeiros-ministros Celu Dalein Diallo (2004-2006) e Sidya Ture (1996-1999), e o opositor a todos os regimes desde a independência, Alpha Conde.

A participação foi maciça e não houve notícia de distúrbios, nem de atos de violência.

"Fechamos. A contagem de votos começará logo", disse Abdulay Sylla, presidente de uma seção eleitoral situada em um bairro de Conacri.

"Verdadeiramente, os eleitores foram muitos", destacou.

Nos bairros populares de Conacri, uma entusiasmada, mas disciplinada multidão invadiu logo cedo as seções eleitorais.

Por volta do meio-dia, o presidente da Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI), Ben Seku Sylla, assegurou que a eleição "transcorria bem", apesar da "falta de material".

"A afluência nos obrigou a multiplicar por dois a quantidade de cabines e de urnas em algumas seções", assegurou.

À tarde, Celu Dalein Diallo, um dos candidatos, disse que seria preciso "respeitar a escolha das urnas, seja qual for".

Durante a campanha, os guineanos expressaram um imenso desejo de Justiça social. A Guiné, primeira exportadora mundial de bauxita, tem consideráveis riquezas naturais, mas a metade de sua população, de 10 milhões de pessoas, vive abaixo do limite da pobreza.

Desde 1958, ano de sua independência, a Guiné conheceu 26 anos de "mandatos vitalícios" de Ahmed Seku Ture (1958-1984), durante os quais pelo menos 50 mil pessoas morreram ou desapareceram, segundo a organização de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional. Ele foi sucedido por Lansana Conte, que ficou 24 anos à frente de um regime militar (1984-2008).

Depois de sua morte, no fim de 2008, oficiais golpistas chefiados por Musa Dadis Camara tomaram o poder. Um ano depois, a matança de 28 de setembro de 2009, pelos militares, de pelo menos 156 opositores, chocou o país.

Ferido a tiro, Camara foi destituído do poder. O governo interino foi assumido pelo então ministro da Defesa, o general Konate.