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Depois de um ano da saída de Zelaya, novo presidente tenta ser aceito dentro e fora do país

Madrugada de 28 de junho de 2009. Manuel Zelaya, presidente hondurenho, está a poucas horas de um referendo que pode mudar a Constituição e garantir a sua permanência no comando do país. Mas, na residência oficial, o líder é surpreendido por militares e obrigado a embarcar, ainda de pijamas, para a Costa Rica. Estava instaurada uma crise em Honduras. E um ano depois do ocorrido,completado amanhã, o país continua vivendo momentos de indefinições.

As novas autoridades não conseguem convencer boa parte da comunidade internacional da reintegração de Honduras às instituições das quais foi afastada. Desde que assumiu a presidência, em 27 de janeiro, Porfirio Lobo tem se esforçado para cumprir as exigências internacionais, como a criação de uma comissão que apure como se deu a destituição de Zelaya.

Mas o país continua suspenso da Organização dos Estados Americanos(OEA); criticado pelos países seguidores do socialismo do século 21 ; liderados por Hugo Chávez; e pressionado pela União das Nações Sul-Americanas (Unasur). Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Guiana, Equador, Paraguai, Peru, Suriname e Venezuela impuseram a condição de que Zelaya volte ao país sem ter de enfrentar a Justiça para que reconheçam Lobo como o presidente. Zelaya está exilado na República Dominicana.

Lobo já se ofereceu a ir buscar Zelaya pessoalmente e deixá-lo enfrentar em liberdade o julgamento por traição à pátria, desvio de verbas, entre outras acusações. Zelaya se nega. Diz que não quer ser julgado por quem participou do que chama de golpe de Estado. Os partidários do presidente deposto têm a mesma postura. Não reconhecem Lobo, que tenta fazer concessões ao grupo, como apoiar a instauração da Frente Nacional de Resistência Popular como partido político.

Somam-se à falta de consenso, a insegurança, a violência, a corrupção e a penetração do tráfico de drogas no país. ;A população se vê cada vez mais indefesa;, disse Eduardo Bahr, diretor da Biblioteca Nacional de Tegucigalpa, em uma entrevista à agência AFP. Um diplomata europeu em Tegucigalpa disse que nas ruas são perceptíveis os ;níveis insuspeitos de intolerância e irritação;. Segundo Bahr, o retorno de Honduras às instituições internacionais pode ajudar a ;acalmar as classes baixas;, que pressionam pela convocação de uma Assembleia Constituinte.

Mas o pedido esbarra no fato de que muitos partidários da destituição de Zelaya estão nas principais instituições e partidos políticos do país. Ainda assim, Lobo denuncia que há um interesse em derrubá-lo, vindo, inclusive, do partido do qual ele faz parte, o Partido Nacional. ;Sabemos muito bem quem são eles e tenho todas as informações. Querem pegar o presidente da República;, disse Lobo pouco antes de ir acompanhar o mundial de futebol na África do Sul. Analistas e diplomatas descartam a possibilidade de um golpe em Honduras.

Memória
Volta com apoio brasileiro

Depois de destituído e levado para Costa Rica, Manuel Zelaya conseguiu retornar a Honduras com uma ajuda do governo brasileiro. Ele se tornou hóspede da Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, capital do país, durante quatro meses. Assim que voltou, Zelaya tratou de avisar que havia pedido proteção ao Brasil, não um asilo político. A intenção era fazer uma ação de resistência e tentar um acordo político nos dias seguintes.

O consenso não aconteceu de imediato e o Brasil foi alvo de críticas por conta do hóspede polêmico. Na época, Roberto Micheletti, governo de fato em Honduras, chegou a ameaçar a embaixada brasileira. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, apelou para o bom senso e avisou que a tentativa de retirada de Zelaya seria considerada ;uma desobediência ao direito internacional;.

Zelaya deixou a embaixada em 27 de janeiro rumo à República Dominicana com um salvo-conduto expedido pelo já presidente Porfirio Lobo, que tinha sido empossado horas antes. Como primeiro ato, Lobo sancionou uma lei que anistiava crimes políticos cometidos por envolvidos na ação que derrubou Zelaya. A anistia foi proposta pelo ex-mediador do conflito, o ex-presidente da Costa Rica Oscar Arias.