Jornal Correio Braziliense

Mundo

EUA iniciam operação tapa-buraco

Depois de trocar o comandante das tropas no Afeganistão, governo tenta mostrar unidade e afirma que a estratégia não muda. Talibãs também vão manter postura tática

No dia seguinte à saída do comandante das forças internacionais no Afeganistão, general Stanley McChrystal, a cúpula militar norte-americana foi a público para tentar tranquilizar os aliados sobre a continuidade da missão e confirmar o apoio ao novo comandante, David Petraeus. O secretário de Defesa, Robert Gates, o chefe do Estado Maior das Forças Armadas, Mike Mullen, e o chefe civil da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Mark Sedwill, asseguraram que a estratégia criticada por McChrystal está no caminho certo e não mudará. Os milicianos extremistas talibãs anunciaram que também manterão a postura de enfrentamento(1).

;Para nós, independe saber quem está no comando. Nossa postura é clara: lutaremos contra os invasores até que eles deixem o país;, disse à agência France Presse o porta-voz dos talibãs, Yusuf Ahmadi. Ele criticou o presidente afegão, Hamid Karzai, que pediu publicamente para que o comandante não fosse tirado do posto. ;É vergonhoso. Karzai, o presidente fantoche, pediu a (Barack) Obama que mantivesse McChrystal;, recriminou.

Segundo a rede CNN, Karzai não foi o único que intercedeu pelo general. Apesar de condenar as declarações dadas por McChrystal à revista Rolling Stone, o secretário Gates teria também defendido a permanência do comandante, considerando o ;momento crítico; da guerra. A informação é de uma fonte do Pentágono, que disse ainda que McChrystal tentou se explicar a Obama, sem sucesso. Em entrevista coletiva no Pentágono, Gates afirmou que a decisão do presidente de aceitar a ;renúncia; do general foi ;correta;.

Gates garantiu que os EUA estão decididos a ;concluir a missão;, e que a mudança no comando não trará ;nenhum tipo de relaxamento em nosso compromisso;. Ao lado do secretário de Defesa, o almirante Mullen afirmou que nem a estratégia nem a orientação política vão mudar com a chegada de Petraeus. ;Estamos muito focados no período entre agora e julho de 2011;, assegurou, referindo-se ao calendário para retirada das tropas. O principal representante civil da Otan se uniu ao coro. ;Ao apontar o general Petraeus, Obama reitera o comprometimento com a campanha e coloca um dos melhores oficiais de sua geração para levá-la adiante;, afirmou Sedwill.

Petraeus, com 35 anos de carreira, já mostrou ser mais disciplinado que o antecessor ao declarar apoio aos prazos e à estratégia do governo Obama para o Afeganistão. ;Eu apoio a política do presidente e vou providenciar a melhor assessoria profissional militar enquanto conduzimos a situação;, disse à CNN. O general, contudo, só deve ser confirmado na próxima terça-feira, quando tem audiência no Senado. A expectativa é de aprovação sem grandes problemas, já que a escolha foi bem recebida tanto por democratas quanto por republicanos.

Preocupação
Outra declaração que deixou evidente a preocupação do governo Obama com o Afeganistão foi a do embaixador americano no país, Karl Eikenberry. O general da reserva pediu ;união; às forças internacionais sob o comando de Petraeus. ;Os EUA não podem permitir desvios que nos impeçam de realizar a missão;, disse.

Para o especialista da Fundação Heritage Ray Walser, a preocupação é justificada. ;O apoio para a missão no Afeganistão estava em queda antes da saída de McChrystal e provavelmente continuará. O desafio para Petraeus e o governo Obama será encontrar e manter o apoio estrangeiro e a união de esforços;, destaca. Entretanto, ele duvida que Petraeus sofrerá com insubordinações, em apoio a McChrystal. ;Os soldados entendem a importância do controle civil sobre os militares e a necessidade de harmonia entre os componentes civis e militares do poder.;

1 - O mês mais violento
Junho nem terminou e já figura como o mês mais violento para as forças estrangeiras no Afeganistão desde a invasão americana, em 2001. Segundo levantamento feito pela agência de notícias France Presse, em três semanas morreram 79 soldados da Força Internacional de Assistência à Segurança (ISAF) ; maior número em oito anos e meio de ocupação. Só na última quarta-feira as tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) sofreram 10 baixas. Os meses mais sangrentos para as forças de ocupação, até agora, tinham sido registrados em 2009: julho (76 mortos), agosto (77), setembro (70) e outubro (74), segundo o site www.icasualties.org.

Réus no Paquistão

Um tribunal no Paquistão condenou a 10 anos de prisão cinco norte-americanos que teriam entrado em contato com membros da rede terrorista Al-Qaeda. Os estudantes, que têm entre 18 e 25 anos de idade e origens diferentes, foram acusados de planejar atentados e financiar grupos insurgentes. Os advogados vão apresentar recurso de apelação ; assim como o promotor, que queria pena de 20 anos. Os réus escaparam da prisão perpétua.

;Cada um deles foi condenado a 10 anos de prisão, por terrorismo;, anunciou o promotor Nadeem Akram Cheema, logo após o julgamento, realizado a portas fechadas em um tribunal no interior da prisão de Sargodha, sob fortes medidas de segurança. ;Eles foram absolvidos em três acusações, mas reconhecidos culpados de outras duas: complô criminoso, pela qual receberam 10 anos de prisão, e financiamento de organização terrorista, que lhes valeu cinco anos;, esclareceu o advogado Hasan Kashela.

Os réus, de origem paquistanesa, etíope, eretreia e egípcia, fugiram de suas famílias nos Estados Unidos e foram detidos no início de dezembro de 2009 em Sargodha (centro do país). Eles sempre afirmaram ser inocentes e asseguraram ter viajado ao Paquistão para ir de lá para o Afeganistão, onde queriam trabalhar para ONGs humanitárias. Os jovens acusaram o FBI (polícia federal americana) e os investigadores paquistaneses de torturá-los, o que as autoridades negam.

Retorno
Outro americano detido no Paquistão voltou ontem para casa. Gary Faulkner foi preso no último dia 13 com uma pistola, uma espada e equipamento de visão noturna. Alegou que estava à procura de Osama bin Laden. Faulkner foi solto 10 dias depois.

Geração fast food
Um clássico hambúrguer numa loja da rede Ray;s Hell Burger em Arlington, subúrbio de Washington, foi o cardápio escolhido pelo presidente Barack Obama e pelo colega russo, Dmitri Medvedev, depois de uma reunião de trabalho na Casa Branca. Nascidos nos anos 1960, Obama e Medvedev imprimem seu estilo informal a um encontro que era cercado de tensão e cerimônia no período mais crítico da Guerra Fria ; quando ambos passavam da infância à adolescência. O mundo mudou, mas Estados Unidos e Rússia continuam tendo discordância e até rivalidades, como admitiu o anfitrião. Obama definiu o visitante como um parceiro ;sólido; e ;confiável;, mas observou que persistem divergências: ;Ouvimos um ao outro e conversamos francamente;.