O chanceler brasileiro Celso Amorim considerou nesta terça-feira (22/6), em Bucarest, como um sinal positivo a vontade do Irã, apesar das sanções internacionais, de manter vigente a proposta de troca de combustível nuclear com a qual se comprometeu num acordo com o Brasil e a Turquia.
"Há uma disposição de manter o acordo que assinamos como base (...), o que é positivo, já que se for levado em conta o ocorrido no Conselho de Segurança se poderia temer reações menos inflexíveis", declarou Amorim em coletiva de imprensa, depois de, na véspera, ter anunciado que o Brasil renunciava à mediação desta questão.
"É animador que a declaração de Teerã (como é denominado o acordo) continue sendo válida", acrescentou o ministro brasileiro, que antes de sua visita a Bucarest se reuniu em Viena com o embaixador iraniano na Áustria, na sede da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Brasil e Turquia fecharam em 17 de maio um acordo com o Irã no qual esse país comprometeu-se a trocar em território turco 1.200 quilos de urânio levemente enriquecido (a 3,5%) por 120 kg de combustível processado a 20% para alimentar seu reator de pesquisas médicas de Teerã.
Mas as grandes potências lideradas pelos Estados Unidos, que suspeitam que o Irã disfarça de civil seu programa nuclear com o objetivo de fabricar a bomba atômica, criticaram desde o primeiro momento o pacto que, segundo a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, tornava o mundo "mais perigoso".
Em 9 de junho, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma resolução que impõe novas sanções ao Irã por sua política nuclear, com a única oposição de Brasil e Turquia.
Em entrevista ao jornal Financial Times em sua edição de segunda-feira, Amorim anunciou que Brasil renunciou à mediação das negociações sobre o tema nuclear iraniano, depois da rejeição dos Estados Unidos e de outras potências ao acordo.
"Queimamos os dedos fazendo coisas que todo mundo dizia serem úteis e, no fim das contas, descobrimos que algumas pessoas não aceitavam ;sim; como resposta", declarou Amorim ao jornal econômico londrino em uma clara referência à administração do presidente Barack Obama.
"Se precisarem de nós, podemos continuar sendo úteis. Mas não vamos agir de novo por iniciativa própria, ao menos que nos peçam", completou o chanceler brasileiro.