Não foi esta a primeira vez que a Presidência da República entrou a sério nos planos de Juan Manuel Santos. Em 1997, quando integrava a troica que dirigia o Partido Liberal, licenciou-se para lançar a pré-candidatura à sucessão do então correligionário Ernesto Samper, no ano seguinte. O candidato acabou sendo o ministro Horacio Serpa, e a sequência de três governos liberais foi quebrada pelo conservador Andrés Pastrana. Dois anos mais tarde, lá estava Santos seguindo sua movimentada carreira pública como ministro da Fazenda: na Colômbia, por quase dois séculos, os dois grandes partidos encenaram no palco político o tema de Caim e Abel, ou Esaú e Jacó. Inclusive por serem filhos gêmeos da mesma oligarquia.
O próximo titular da Casa de Nariño é sobrinho-neto do presidente Eduardo Santos (1938-1942), um liberal. Sua família foi dona do diário El Tiempo, o principal do país, até anos atrás, quando se associou ao grupo espanhol Planeta, este como acionista majoritário.
Nascido em 10 de agosto de 1951, em Bogotá, Juan Manuel Santos cursou as melhores escolas, formou-se em economia e administração e fez pós-graduações em duas das mais prestigiadas instituições do mundo: a London School of Economics e a Universidade de Harvard (EUA). Ele e seus contemporâneos formaram-se como cidadãos ouvindo pais, avós e tios contando histórias do Bogotazo, como ficou conhecida a revolta popular após o assassinato do caudilho liberal Jorge Eliécer Gaitán, em 1948. O país mergulhou por 10 anos na guerra civil, conhecida como A Violência, de cujos desdobramentos surgiram, em 1964, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
A guerrilha já havia cruzado o caminho do novo presidente de maneira insuspeita nos anos 1960, quando foi cadete na Escola Naval de Cartagena. Entre seus colegas estava um certo Ricardo Palmera, que mais tarde se tornaria Simón Trinidad, integrante do Estado Maior Central das Farc. Capturado no Equador em janeiro de 2004 e extraditado para os EUA em dezembro do mesmo ano, ele hoje cumpre condenação a 60 anos de prisão por narcotráfico.
[SAIBAMAIS]A queda de Trinidad foi o primeiro sinal de que a política de guerra total adotada por Uribe a partir de 2002 começava a atingir os rebeldes. Mas foi no segundo mandato, iniciado em 2006, que o atual presidente colecionou seus maiores troféus de campanha. E seu ministro de Defesa era Juan Manuel Santos, que se apresentou para a sucessão como o mais credenciado a continuar a obra. Foi sob sua batuta que, em março de 2008, as Forças Militares abateram em um bombardeio o líder guerrilheiro Raúl Reyes. Dois meses depois, morreu do coração o fundador das Farc, Manuel Marulanda, o Tirofijo. Passados mais dois meses, a Operação Xeque resgatou, sem um disparo sequer, a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, refém desde 2002.
Juan Manuel Santos reencarnou o jornalista para escrever Xeque ao terror, recém-lançado com prefácio do escritor mexicano Carlos Fuentes. Embora ressalte que não acompanha o autor ;em tudo o que ele diz;, Fuentes apresenta-o como ;amigo; e ;melhor aluno;. E lembra que Santos, por suas qualidades, já tinha merecido uma profecia: ;Em meu romance La silla del águila (;A cadeira da águia;), previ que ele chegaria à Presidência em 2020. Tomara que chegue antes.;