Magdalena Rivas, mãe do capitão Elkin Rivas Hernandez, se recorda de quando beijou o filho pela última vez. ;Foi há 11 anos, 8 meses e um dia;, respondeu ao Correio na sexta-feira (18/06), por telefone, sem pestanejar. Em 13 de outubro de 1998, rebeldes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) interceptaram seu carro, perto do município de Paujil, no departamento (Estado) de Caquetá. A voz dessa senhora de 61 anos não disfarça a angústia e a ansiedade pelo reencontro. ;O que mais quero é que meu filho siga tendo fortaleza e fé;, desabafa. ;Com a ajuda de Deus, ele estará regressando logo.; Na última segunda-feira, Elkin completou 34 anos de idade na selva e 4.692 dias no cativeiro.
O resgate de quatro reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), no domingo passado, trouxe alento a Magdalena. E a esperança de, em breve, cumprimentá-lo pessoalmente pelo aniversário. ;Estou feliz, mas ao mesmo tempo muito triste. Eu queria que a guerrilha fizesse um gesto humanitário e o libertasse;, desabafou. Ela admite que a vida ;não tem sido muito fácil;. ;É uma vida recheada de incerteza, de dor e de sofrimento;, disse. As comemorações já não têm espaço entre os Rivas. ;Para nós, o aniversário de Elkin é motivo de imensa dor. Dói saber que meu filho cumpriu mais um aninho de vida na selva;, lamentou.
A última prova de vida chegou em 6 de junho passado, por meio de uma gravação de vídeo na qual o policial se dirigia à mãe, agradecia o ;imenso amor; dedicado pela família e pedia desculpas aos pais por fazê-los sofrer. Magdalena teme pelo destino de Elkin, após o Exército colombiano ter resgatado o general Luis Mendieta, o coronel Enrique Murillo e o sargento Arbey Delgado. ;Essa gente pode agir em represália contra os sequestrados. Eles seguem acorrentados, em uma situação que não se justifica para uma mãe que tanto sofre por seu filho;, acrescenta.
Amália Márquez atendeu o telefone, em Bogotá, com uma gargalhada. ;Você não se esqueceu de mim;, brincou, referindo-se à última entrevista ao Correio, em dezembro passado. A última vez que ela escutou a voz do filho, o advogado Enrique Díaz Márquez, 40 anos, foi em 10 de fevereiro de 1999. Kike, como é conhecido pela família e pelos amigos, foi capturado pelas Farc quando chegava em seu escritório, no centro da capital colombiana. Antes de levá-lo para a floresta, os rebeldes permitiram-lhe fazer apenas duas ligações para os pais.
;O que sinto hoje é uma felicidade partilhada com todos os familiares de reféns libertados;, comentou a aposentada de 75 anos. ;Temos a certeza e a esperança de que os nossos também vão chegar. Não sabemos como, se serão libertados ou resgatados, mas eles chegarão;, acrescentou. Ela pediu apoio da sociedade ao presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, e reclamou que os civis capturados pelas Farc estão sendo esquecidos pelas autoridades. ;Os civis também existem e todos têm que regressar;, disse Amália. Nesses 4.087 dias, a vida da família Márquez também mudou completamente. ;É uma transformação total, porque todos ficam dependentes da pessoa ausente;, explica. ;Temos que estar sempre prontos para recebê-lo de volta.; Ela acredita que o estágio atual do conflito em seu país exige do governo a adoção de uma campanha democrática de resgates, que atenda militares e civis. ;Há mais civis do que militares no cativeiro. Queremos uma igualdade de tratamento;, conclui.
Angústia indisfarçável de Magdalena e Amália. Alegria incontida de Maria Teresa Mendieta. A mulher do general Luis Mendieta ; libertado após 4.242 dias no cativeiro ; não conseguia conter o sorriso, ao falar com a reportagem, por telefone. ;Eu não o via há 12 anos. A libertação dele foi uma coisa muito alentadora, que encheu meu coração de felicidade;, admitiu. ;Nos últimos dias, temos conversado muito e o fiz falar sobre as coisas que ele passou durante esses 12 anos, sobre sua vida na selva e as doenças que ele contraiu. Para que eu mesmo possa aprender algo.;