Parentes dos primeiros mineiros retirados mortos da mina de carvão San Fernando, que explodiu na noite de quarta-feira na Colômbia, celebravam funerais esta sexta-feira (18/6), ao mesmo tempo em que prosseguia a difícil busca por meia centena de desaparecidos.
Na praça central do povoado de Amagá era celebrada missa ao ar livre, a cargo do monsenhor Jaime Soleibar, à qual compareceram centenas de pessoas de várias cidades vizinhas e inclusive de Medellín (400 km a noroeste de Bogotá), capital do departamento de Antioquia.
Apesar de os corpos terem sido encontrados carbonizados, 16 já foram identificados e reconhecidos pelas famílias. Foi um trabalho que levou tempo, realizado por dez especialistas do Instituto Médico Legal.
Outros dois corpos foram recuperados pelos socorristas e estão em processo de identificação.
"Na mina, no momento da explosão, havia 71 mineiros, e se está investigando se havia mais algum", disse à AFP Auxilio del Socorro Zapata, prefeita de Amagá (noroeste colombiano), povoado distante cerca de 3 km da mina, de onde foi possível ouvir a explosão.
Os trabalhos dos socorristas se desenvolvem de forma "intermitente" diante do risco de uma nova explosão, disse um porta-voz dos organismos de socorro.
"Reiniciamos operações na madrugada, mas as executamos de forma lenta, de forma intermitente, porque agimos sujeitos às condições de segurança", disse à AFP Byron Restrepo, chefe do corpo de socorristas do Instituto Colombiano de Geologia e Mineração.
[SAIBAMAIS]As buscas pelos desaparecidos já tinham sido suspensas às 19H30 de quinta-feira (horário de Brasília), segundo as autoridades, por causa da escuridão na região e da espera, especialmente, para que os gases tóxicos dentro da mina se dissipassem. As atividades foram retomadas às 08H00 desta sexta-feira (hora de Brasília).
Segundo Restrepo, "a alta concentração de gases na mina pode provocar de um momento a outro uma nova explosão".
"O resgate é metódico e lento: evacuamos os gases, esperamos que os medidores indiquem uma baixa no nível e ali entram rapidamente nossos homens para resgatar os corpos", disse.
Muitas pessoas ainda esperavam nas imediações da mina para saber a sorte de seus familiares, embora já tenham a convicção de que "certamente estão mortos", coincidiram em manifestar à AFP várias delas.
A empresa dona da mina, que foi hermética sobre as causas do acidente e em proporcionar informações a familiares das vítimas, custeará as despesas com os funerais, disse a prefeita.
Aparentemente um acúmulo de gases foi a causa da explosão em uma parte intermediária da mina, que tem cerca de 1.400 metros, coincidiram versões dos brigadistas de resgate e das autoridades locais.
Apesar de que a mina é reconhecida como a de maior tecnologia da região, o vice-presidente do Conselho de Amagá, Eduardo Acevedo, disse à AFP que carece de um sistema adequado e suficiente para a evacuação dos gases.
"Este acidente, embora pareça produto de uma situação acidental, também poderia estar relacionado com imprevistos, com o cuidado indevido do mineiro, da segurança industrial", destacou.
"Os mineiros se queixam de que esta mina tem condições muito difíceis para eles, enquanto há muito calor no interior do túnel e eles associam este calor à falta de ventilação adequada", acrescentou.
Segundo a prefeita, 60% dos 27.000 habitantes de Amagá retiram, direta ou indiretamente, seu sustento do trabalho nas minas de carvão da região.
Este foi o segundo acidente registrado na mina San Fernando. Em 14 de julho de 1977, morreram 86 mineiros em um evento similar, lembrou Acevedo. Além disso, em novembro de 2008, a mina sofre uma inundação, que deixou cinco mortos.