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Jerusalém: 120 mil judeus ultraortodoxos irados criticam lei civil em manifestação

Cerca 120 mil judeus ultraortodoxos foram as ruas de Israel nesta quinta-feira (17/6), para denunciar a "interferência" da Suprema Corte nos assuntos civis do país e reafirmar a primazia da Torá sobre o direito.

Pelo menos 100 mil manifestantes se concentraram no início da noite no coração de Jerusalém Ocidental, segundo a polícia; mas, para os organizadores, o número foi duas vezes maior. Uma outra manifestação reuniu cerca de 20 mil pessoas em Bnei Brak, cidade de população ortodoxa judaica, perto de Tel Aviv.

Esta foi a mais importante demonstração de ira por parte de judeus ultraortodoxos há mais de 10 anos em Israel. Transmitidas ao vivo, pela televisão, as manifestações ofuscaram completamente o anúncio do governo sobre o relaxamento do bloqueio na Faixa de Gaza.

O protesto dos homens vestidos de preto em Israel responde à proibição decretada pela Suprema Corte de discriminação entre crianças asquenazis e sefaraditas em escolas religiosas da colônia judaica de Immanuel na Cisjordânia ocupada.

Os pais asquenazis (originários da Europa central e leste) não querem que seus filhos frequentem aulas com crianças sefaraditas (de origem oriental), apesar da decisão da Suprema Corte. Retiraram seus filhos das escolas e devem cumprir prisão por causa disso, uma vez que a educação é obrigatória em Israel.

Essas famílias pertencentes ao grupo hassídico Slonim já haviam tirado suas filhos da escola há um ano para protestar contra uma primeira decisão da justiça que os obrigava a integrar jovens dos dois grupos.

As famílias do grupo Slonim se defendem, dizendo não ser racismo, e explicam sua não aceitação pelas diferenças entre as tradições religiosas sefaraditas e asquenazis.

Nos cartazes dos manifestantes, os slogans não param de relembrar a primazia da lei religiosa sobre as regras laicas.

"É a Torá que comanda", lia-se nas faixas de protesto. Ou ainda, em adesivos: "Eu afirmo a supremacia da Torá acima das decisões da Corte".

Para Yaakov, 20 anos, estudante de uma Yeshiva (escola talmúdica) da Cidade Santa, "é preciso manifestar já que o mundo da Torá está em perigo. Devemos apoiar essas famílias que honram o povo judaico".

A polícia israelense foi colocada em "estado de alerta avançado". Cerca 10.000 agentes foram mobilizados, principalmente em Jerusalém, em Bnei Brak e em Beit Shemesh, base ultraortodoxa localizada no meio do caminho entre as duas cidades.

Também foram mobilizadas unidades da guarda fronteiriça, apoiadas pela polícia montada e por helicópteros.

O presidente de Israel, Shimon Peres, reuniu-se com o vice-ministro da Educação, o rabino Meir Porush, uma figura da comunidade ortodoxa asquenazi, numa última tentativa de conciliação destinada a acalmar os ânimos.

Dois partidos ortodoxos que têm 16 deputados (de um total de 120 no Knesset, o parlamento unicameral israelense) pertencem à coalizão do primeiro-ministro Benajamin Netanyahu.

Na quarta-feira, o chefe do governo pediu "moderação, respeito à lei" e que fosse encontrada uma fórmula de compromisso satisfatória para todos.