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Hamas e Turquia vão processar Israel

Ministros da Justiça levarão à Corte Internacional Criminal militares que atacaram flotilha

Justiça, direitos e democracia. De acordo com o porta-voz do movimento fundamentalista islâmico Hamas, Fawzi Barhoum, essas é a tríade que move a facção considerada terrorista pelo governo de Israel. Com o foco nesses objetivos, o ministro da Justiça do Hamas, Faraj Al-Ghoul, conversou ontem por telefone com o colega turco, Sadullah Ergin. Os dois concordaram em trabalhar em conjunto para processar os militares israelenses que participaram do ataque israelense à flotilha humanitária, em 31 de maio passado. ;O governo do Hamas em Gaza apoia qualquer corte internacional contra a ocupação, porque ela cometeu crimes contra a flotilha (1). Pela primeira vez, estamos buscando a Corte Criminal Internacional (ICC, pela sigla em inglês) e apoiamos qualquer país que faça o mesmo;, afirmou Barhoum, em entrevista exclusiva ao Correio, por telefone, da Cidade de Gaza. ;Nossa resistência é legítima, apoiada pelas Convenções de Genebra. Todo país ocupado por outro deve resistir, a fim de defender sua terra;, acrescentou ele, que também tem o status de líder do Hamas.

O jornal árabe Al-Sharq Al-Awsat, baseado em Londres, publicou detalhes da conversa entre Al-Ghoul e Ergin. ;Medidas legais extensas devem ser tomadas, no sentido de operarmos contra os comandantes da ocupação nas cortes internacionais;, disse o ministro do Hamas ao colega turco. ;A Turquia está pronta para cooperar, a fim de revelar os crimes ultrajantes de Israel contra a humanidade;, emendou Ergin. No entanto, a medida pode se resumir à força retórica e simbólica. De acordo com o norte-americano George Bisharat ; professor de direito internacional na Universidade da Califórnia ;, por não ser signatário do Estatuto de Roma que criou a ICC de Haia, Israel não pode ser julgado por essa instância.

;É possível que alguns soldados israelenses que se envolveram na operação, sejam eles comandantes ou participantes diretos, tenham cidadania também em outros países signatários, o que lhes imputa a possibilidade de serem processados;, disse Bisharat, em entrevista por e-mail. O analista duvida que Israel forneça a informação à ICC. ;As razões para o fato de líderes militares culpados por este crime provavelmente saírem impunes são políticas, e não legais;, admite. ;A curto prazo, a sociedade civil internacional terá que continuar a abrir caminho na busca pela justiça no Oriente Médio, por meio de instrumentos não violentos;, acrescenta.

Advertência
Uma revelação publicada ontem pelo jornal israelense Haaretz coloca mais pressão sobre o premiê Benjamin Netanyahu e a cúpula de defesa de Israel. Segundo o diário, durante debates sobre como lidar com a flotilha de ajuda a Gaza, o Ministério das Relações Exteriores alertou às forças de segurança que esperassem a entrada dos navios em águas territoriais de Israel ; a 32km da costa ;, antes de lançarem uma operação militar.

1 - Brasileira exibe vídeo na ONU

Enquanto prepara uma nova flotilha humanitária para romper o bloqueio à Faixa de Gaza, a cineasta brasileira Iara Lee exibiu, às 17h de ontem (16h em Nova York) o vídeo gravado no interior do navio Mavi Marmara. A gravação, divulgada na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), mostra o ambiente na embarcação horas antes do ataque e a reação imediata dos passageiros à invasão israelense. No site de relacionamentos Facebook, Iara Lee anunciou que 20 navios participarão da nova flotilha, ainda sem data marcada. ;Precisamos de um navio brasileiro com 50 pessoas para representarem nosso país. Enviei um convite inclusive para o jogador Ronaldinho;, escreveu.

ABBAS PESSIMISTA SOBRE EXISTÊNCIA DE DOIS ESTADOS
Um dia após visitar o colega norte-americano Barack Obama, o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas, não conseguiu disfarçar o pessimismo em relação ao conflito no Oriente Médio. ;O conceito de dois Estados para a paz entre palestinos e israelenses está começando a erodir;, declarou Abu Mazen, como também é conhecido. ;Quero expressar minha preocupação ante uma situação muito difícil;, acrescentou. Em Ramallah, na Cisjordânia, oficiais palestinos revelaram que divisões dentro do partido Fatah, de Abbas, sobre um possível candidato forçaram o adiamento das eleições marcadas para julho.

Fawzi Barhoum, porta-voz e líder do Hamas, fala sobre processar Israel