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Justiça indiana condena a 2 anos de prisão culpados por tragédia em Bhopal

Um tribunal indiano condenou nesta segunda-feira (7/6) a dois anos de prisão os executivos declarados culpados pelo escapamento de gás de Bhopal que, em 1984, provocou o pior acidente industriais da história do mundo, com milhares de mortos.

Uma nuvem de gases tóxicos que se desprendeu da usina em 3 de dezembro de 1984 matou no ato milhares de pessoas e seguiu ocasionando nos anos posteriores milhares de mortes e doenças.

Oito pessoas foram declaradas culpadas por "morte por negligência", incluindo Keshub Mahindra, o ex-presidente da filial indiana do grupo americano Union Carbide, e a atual montadora Mahindra e Mahindra. "Todos os culpados foram condenados a uma multa de 100.000 rúpias (2.100 dólares) e a dois anos de prisão", informou à AFP um funcionário do tribunal, que também impôs uma multa ao grupo americano Union Carbide.

Espera-se que os condenados recorram da sentença e não sejam presos de imediato. Um deles, R.B. Roychoudhury, inclusive já faleceu.

O ex-presidente da matriz americana, Warren Anderson, figurava entre os acusados, mas não foi mencionado no veredicto por estar foragido.

Todos foram acusados de homicídio em 1987, mas o Supremo Tribunal reclassificou as acusações em 1996 para "morte por negligência", com uma pena de prisão máxima de dois anos, provocando a indignação das vítimas.

"Mesmo com um julgamento nos quais sejam declarados culpados, que significa essa pena de prisão?", questionou Sadhna Karnik, membro de uma associação de vítimas da catástrofe. "Eles poderão apelar ante as mais altas jurisdições", acrescentou.

Segundo as cifras do governo, 3.500 pessoas morreram nos três primeiros dias que seguiram à tragédia. Mas, segundo o Centro Público de Pesquisa Médica (ICMR), houve entre 8.000 e 10.000 mortos entre a população.

Segundo o ICMR, a catástrofe e suas consequências mataram 25.000 pessoas até 1994.

As estatísticas do governo recolhidas depois de 1994 estabelecem que dos 100.000 vizinhos da fábrica que sofriam enfermidades crônicas, mais de 30.000 viviam em zonas onde as camadas freáticas foram contaminadas.

A americana Dow Chemical, que comprou a Union Carbide em 1999, defende que as responsabilidades ficaram para trás após um acordo de 1989 com o governo indiano para o pagamento de 470 milhões de dólares de indenizações, com o abandono das investigações penais.

Em um comunicado emitido por ocasião do 25; aniversário da tragédia, em dezembro do ano passado, considerou que este acordo havia resolvido todas as reivindicações "presentes e futuras" contra o grupo.

A Union Carbide e, em seguida, a Dow Chemical afirmaram que o acidente aconteceu por causa de uma sabotagem, mas as vítimas continuam lutando para que se saiba a verdade e por maiores indenizações.

"Não haverá justiça até que os indivíduos e as empresas responsáveis recebam uma pena exemplar", afirmou Rashida Bee, presidente de uma associação de mulheres empregadas no setor de gás na Bhopal.

O primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, classificou o acidente, em dezembro de 2009, de tragédia "que corroi a consciência coletiva" e declarou querer seguir com os esforços para a descontaminação do local, onde ainda há inúmeros dejetos químicos que contaminam o solo e os lençois freáticos.