O novo primeiro-ministro do Japão, Naoto Kan, assume o governo do país com o desafio de tentar reconquistar a confiança da população, depois da saída do impopular Yukio Hatoyama. Sua tarefa ficará ainda mais difícil pelo fato de chegar ao posto a um mês das eleições que renovarão a metade da Câmara Alta do Parlamento japonês. Naoto, que estava à frente da pasta de Finanças desde janeiro deste ano, foi eleito por 436 dos 714 parlamentares. Ontem, o recém-chegado premiê ; o quinto em apenas quatro anos ; prometeu ;revitalizar o país;, mas já sinalizou que vai manter a base militar norte-americana na Ilha de Okinawa. A mesma decisão, no governo anterior, foi um dos pontos que mais comprometeram a credibilidade de Hatoyama.
;É nossa responsabilidade avançarmos mantendo em mente o consenso atingido sob o governo (anterior de Yukio) Hatoyama. Trata-se de um acordo entre o Japão e os Estados Unidos;, disse Naoto. Seu antecessor tinha prometido, durante a campanha eleitoral, que desativaria a base de Futenma, construída em 1945, ainda durante a Segunda Guerra Mundial. A determinação de Hatoyama, no entanto, foi freada pela necessidade de manter boas relações com Washington, e, na última semana, ficou estabelecido que a base naval mudará para um região menos habitada, mas continuará em Okinawa. O premiê renunciou ao poder com menos de 20% de popularidade.
Naoto também terá de lidar com uma deflação que fragiliza a reativação econômica, lutar contra uma alta do iene que prejudica as empresas japonesas exportadoras, encontrar o modo de financiar as generosas promessas de subsídios feitas pelo seu partido, o Partido Democrata do Japão (PDJ), e propor uma estratégia de crescimento econômico a médio e longos prazos concretos para os meios empresariais.
;A prioridade agora é revitalizar o país e ter um partido cujos membros possam levantar-se todos juntos e proclamar com confiança: ;podemos fazer isso;;, disse o novo premiê, diante de representantes doPDJ. Segundo ele, nos últimos 20 anos, a economia japonesa permaneceu em ;ponto morto por conta de políticas errôneas;. ;Acho que podemos obter uma economia forte, finanças fortes, uma proteção social forte, tudo ao mesmo tempo;, garantiu.
Boas-vindas
Ontem, o governo americano já deu as boas-vindas ao novo primeiro-ministro ; manifestação importante diante da tensão criada no governo anterior. ;Saudamos a eleição do Sr. Kan como primeiro-ministro do Japão, e o presidente (Barack Obama) aguarda ansiosamente para conversar com o primeiro-ministro;, afirmou o porta-voz de Segurança Nacional Mike Hammer, em um comunicado. A nota ainda destaca que o Japão é um ;importante amigo e aliado; para assuntos ;bilaterais, regionais e globais;. ;Nossa parceria é crucial para a paz e a prosperidade na região do Pacífico;, destaca Hammer.
Além da base de Okinawa, outro ponto que mina a relação com os Estados Unidos ; e com a União Europeia ; estará nas mãos de Naoto: a lei de reformulação dos serviços postais. Ontem, ele já prometeu que se esforçará para aprovar o projeto de revisão do vasto sistema postal japonês. Para norte-americanos e europeus, a decisão pode impedir a competição nos mercados financeiros globais.
A prioridade agora é revitalizar o país e ter um partido cujos membros possam levantar-se
todos juntos e proclamar com confiança:
;podemos fazer isso;
Naoto Kan, novo primeiro-ministro do Japão
Perfil
Um político atípico
Ao contrário da maioria de seus antecessores, membros de verdadeiras dinastias de dirigentes do Japão, Naoto Kan não provém de uma família de políticos ; seu pai era diretor de uma fábrica. Ex-militante da esquerda, Naoto, 63 anos, também destoa por seu temperamento forte. Em 1968, foi líder de movimento estudantil e, já nos anos 1970, se tornou um defensor ativo do meio ambiente e do pacifismo. Começou sua carreira na política como ajudante de uma líder do movimento feminista e, em 1980, se tornou deputado ; cargo ao qual foi reeleito nove vezes.
Dezesseis anos depois, teve seu grande momento político quando participou da criação do Partido Democrata do Japão (PDJ, centro-esquerda) e, sendo ministro da Saúde de um governo de coalizão, forçou sua administração a revelar um escândalo de transfusão de sangue infectado com o vírus HIV.
Nos anos seguintes, enfrentou dois escândalos: um por não ter pago todas as contribuições de aposentadoria, e outro ao ter divulgado um caso extraconjugal. Em seu último posto, de ministro das Finanaças, sempre se manifestou a favor da disciplina orçamentária, em um Japão endividado em 200% de seu Produto Interno Bruto (PIB).