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Justiça italiana investiga relações do almirante Massera com a maçonaria

O tribunal de Roma, que processa o ex-almirante argentino Emilio Massera pelo desaparecimento e a morte de três ítalo-argentinos durante a ditadura militar no país sul-americano (1976-1983), dedicou a audiência desta sexta-feira às relações entre o ex-oficial e a controversa loja maçônica italiana Propaganda 2.

A pedido do promotor Francesco Caporale, foi admitida esta quinta-feira como prova uma lista com 900 nomes dos membros da poderosa loja, na qual aparece Massera.

A lista foi elaborada nos anos 1980 por uma comissão do Parlamento italiano, que investigou a tentativa de "golpe branco" organizado pela chamada "P2", com a finalidade de ocupar postos chave do Estado italiano e evitar qualquer aliança com o outrora partido comunista do Ocidente.

Massera, que aparece na lista como membro número 478, é acusado pelo promotor italiano de ser o interlocutor na Argentina da P2 para suas atividades de guerra suja e perseguição sistemática dos opositores.

O ex-chefe da Armada (Marinha) argentina é processado à revelia pela Justiça italiana pelo desaparecimento de Angela Maria Aieta - mãe do líder da Juventude Peronista Dante Gullo -, sequestrada em 5 de agosto de 1976, assim como de Giovanni Pegoraro e sua filha, Susana, ambos sequestrados em 18 de junho de 1977.

O julgamento de Massera, de 83 anos, é o terceiro processo aberto na Itália contra militares argentinos envolvidos em violações dos direitos humanos.

Condenado na Argentina à prisão perpétua, teve a pena suspensa porque peritos médicos argentinos sustentam que ele não tem consciência de seus atos.

Mas para a Justiça italiana, Massera goza de "plenas faculdades" mentais para enfrentar um julgamento, possibilitando abrir o processo em 30 de setembro de 2009.

Pelo mesmo motivo foram julgados em separado, em Roma, e condenados em março de 2007 os ex-repressores Jorge Acosta, Alfredo Astiz, Jorge Vildoza, Héctor Febrés (falecido em dezembro de 2007) e Antonio Vañek.

Todas as vítimas tinham nacionalidade italiana e passaram pela tristemente famosa Escola de Mecânica da Armada (ESMA), o mais emblemático centro de detenção e tortura de opositores ao regime, por onde passaram 5.000 prisioneiros, a maioria dos quais ainda desaparecidos.

Segundo entidades humanitárias, a ditadura deixou 30.000 desaparecidos, entre eles uma centena de italianos.