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Informe da ONU critica impunidade

Relatora brasileira confirma vínculos entre políticos governistas e esquadrões paramilitares

A relatora especial das Nações Unidas para assuntos relativos à independência de juízes e advogados, a brasileira Gabriela Carina Knaul de Albuquerque e Silva, confirmou os vínculos entre políticos colombianos e os esquadrões paramilitares de extrema direita. ;Durante os últimos anos, apareceram novos atores armados ilegais. Nesse sentido, foram estabelecidos vínculos entre dirigentes de grupos paramilitares e políticos, incluindo membros do Congresso;, afirmou a relatora, que visitou a Colômbia no mês passado.

Em um informe para o Conselho de Direitos Humanos da ONU, apresentado ontem em Genebra, a brasileira citou o processo de 93 parlamentares e 22 sentenças emitidas pela Suprema Corte de Justiça. Gabriela também destacou os sumários contra 13 deputados, 12 governadores, 166 prefeitos e 58 vereadores. Ela precisou que esse foi o resultado dos casos investigados sobre a chamada parapolítica, ;relativos a possíveis conexões de chefes de organizações paramilitares com membros do Congresso e do governo;.

Sobre a extradição para os Estados Unidos de 18 membros dessas organizações, acusados de narcotráfico, a relatora lamentou que a medida tenha impedido que eles testemunhassem sobre esses crimes contra a humanidade e sobre suas relações com dirigentes políticos colombianos. ;Apesar de a situação ter melhorado desde 2004, os assassinatos continuam. Percebe-se que há uma dificuldade de investigação dos crimes;, afirmou Gabriela.

Entre outras acusações alusivas às investigações, Gabriela referiu-se aos agentes do Departamento Administrativo de Segurança (DAS, o serviço secreto colombiano) que perseguiram jornalistas, políticos e juízes. A relatora afirmou que essas atividades configuram ;um ataque ao Judiciário e também aos advogados e defensores dos direitos humanos;.

Para Marcelo Pollack, da Anistia Internacional, ;as alianças dos grupos ilegais com políticos e empresários constituem provavelmente a ameaça mais séria para o Estado de Direito na Colômbia;. Gustavo Gallón, membro da Comissão Colombiana de Juristas, disse que a relatora ;foi muito crítica;, pois há ;impunidade, não há condenação de paramilitares; e se faz ;espionagem dos serviços que dependem do presidente contra magistrados e advogados;.

Eleições
O jornal colombiano El Tiempo destacou ontem que quase a metade dos congressistas processados no escândalo da parapolítica eram da Costa Atlântica. Departamentos da região, como Sucre e Córdoba, chegaram a ficar sem representação no Congresso, recuperada graças à diplomação dos terceiros colocados nas eleições legislativas de 14 de março. O jornal atribui a votação do candidato presidencial do Polo Democrático, Gustavo Petro, na eleição do último domingo ; Petro saiu-se bem melhor que o previsto nas pesquisas ;, ao fato de ele ter sido um dos congressistas que começaram a denunciar os nexos de políticos governistas com os paramilitares.

Verdes sem coligação

O candidato do Partido Verde à Presidência da Colômbia, Antanas Mockus, optou pelo corpo a corpo com os eleitores ; em primeiro lugar os mais de 50% que se abstiveram no primeiro turno, no último domingo ; para tentar a façanha de superar no segundo turno o mais que favorito Juan Manuel Santos, ex-ministro da Defesa e apoiado pelo presidente Álvaro Uribe. Na impossibilidade de costurar alianças formais com outros partidos, Mockus anunciou que buscará ;diálogo e alianças; diretamente com os colombianos.

;Queremos que os que se abstiveram venham para nós, e assim ganharemos com certeza;, afirmou o candidato, que tem as próximas duas semanas para descontar uma desvantagem nada desprezível. Santos, com mais de 46% dos votos, chegou perto de liquidar a eleição já na primeira votação. Já teve a adesão do Partido Conservador e ofereceu negociações sobre uma coalizão ao Partido Liberal ; que, até ontem, mantinha posição oficial de neutralidade para o segundo turno. Quanto aos verdes, o candidato a vice, Enrique Peñalosa, apenas acenou com boa vontade para examinar ;as propostas e recomendações; do esquerdista Polo Democrático, que faz oposição a Uribe e se mobiliza para tentar impedir a vitória do candidato governista.

;Nossa única coalizão é com a cidadania, isto é, com os cidadãos que não votaram ou escolheram outros candidatos;, reforçou Mockus. Filósofo e matemático, ex-reitor da Universidade Nacional e ex-prefeito de Bogotá, o presidenciável verde rechaçou a repetição de ;alianças do tipo da Frente Nacional;, uma referência ao pacto firmado em 1958 por conservadores e liberais ; então, os dois partidos que dominavam a política colombiana ; para alternar-se no governo por 12 anos.


Nossa única coalizão é com os cidadãos
Antanas Mockus, candidato do Partido Verde à Presidência da Colômbia