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Colômbia vai ao 2º turno

Juan Manuel Santos e Antanas Mockus têm novo confronto marcado para 20 de junho. Violência, desemprego e pobreza serão alguns dos maiores desafios a serem enfrentados pelo vencedor

Depois de oito anos de governo do presidente Álvaro Uribe, os colombianos escolherão seu sucessor entre dois candidatos: o governista e ex-ministro de Defesa, Juan Manuel Santos, e o filósofo e matemático, ex-prefeito de Bogotá, Antanas Mockus. Quem assumir a Presidência terá que resolver o paradoxo dos indicadores econômicos. Apesar do bom crescimento econômico, da baixa inflação (2%) e uma renda per capita de US$ 5 mil, o país registra também uma alta taxa de desemprego, com 13%, e tem quase a metade da população vivendo abaixo da linha de pobreza (45,5%), além de 16,4% na indigência.

Além de resolver essa situação de desigualdade social, outra missão do novo presidente será melhorar a relação com os vizinhos do socialismo do século 21, os bolivarianos Venezuela e Equador. ;Tomara que venha um governo com quem se possa falar e trabalhar, que não seja uma máfia;, alfinetou ontem o presidente venezuelano, Hugo Chávez. Colocar um ponto final no narcotráfico e na ação dos grupos armados ilegais, como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), é outro desafio a ser enfrentado por quem vencer o segundo turno, previsto para 20 de junho.

Congresso
Santos ou Mockus terão ainda de lidar com um Congresso em que nem todos os integrantes possuem a ;ficha limpa; e se desligaram do narcotráfico ou dos grupos paramilitares. A diretora da Missão de Observação Eleitoral, Alejandra Barrios, afirmou que ;pelo menos 30 senadores, dos eleitos em março passado, têm conexão com autodefesas (grupos paramilitares) ou outros problemas com a Justiça;.

O primeiro turno ocorreu ontem com relativa tranquilidade e poucas irregularidades registradas. Talvez pelo tempo chuvoso nas principais cidades, apenas metade dos quase 30 milhões de eleitores compareceu nas seções eleitorais (o voto na Colômbia não é obrigatório). Pouco depois das 21h (horário de Brasília), 99,44% das urnas estavam apuradas. Santos, candidato do Partido da U, contabilizava 46,57% dos votos. Mockus, do Partido Verde, garantia 21,48%. Para levar a Presidência no primeiro turno, era necessária a maioria absoluta dos votos (50% 1). Santos reverteu as pesquisas de opinião, que lhe davam um empate técnico de 35% dos votos, com 34% para Mockus. A diferença entre os dados apresentados pelos institutos de pesquisa e o resultado nas urnas fez com que os responsáveis pela campanha do ambientalista levantassem suspeitas sobre fraudes.

Borboletas e oração
;Espero o melhor. Acabamos de soltar com nossas filhas algumas borboletas porque, como escrevi há alguns anos, o voo de uma borboleta apenas pode mudar o mundo;, disse ontem Mockus, ao sair do colégio eleitoral, na hemeroteca de Bogotá, acompanhado da mulher. Enquanto Mockus soltava borboletas, Santos assistia a uma missa na igreja La Milagrosa, na capital, antes de votar, na companhia de seu colega de chapa, Angelino Garzón. Na saída, prometeu respeitar a decisão do povo colombiano sem ;titubear;. ;Se decidirem que somos Angelino e eu, pois que Deus nos dê força, justiça, prudência e temperança para governar bem;, disse o candidato do governo.

Para ganhar o segundo turno, Santos disse ontem que tentará construir alianças com o Partido Conservador e com Cambio Radical ; que fizeram parte da coalizão de apoio a Uribe ;, além de buscar apoio do Partido Liberal. ;Todos estão guardando cartas, e vão jogar essas cartas dependendo dos resultados;, avaliou. Se ganhar as eleições, Santos promete formar um governo de unidade nacional com um acordo que integre todos os partidos, inclusive os de esquerda. O candidato uribista também já admite tentar refazer as relações diplomáticas com a Venezuela, apesar de reconhecer que ;até a madre Teresa de Calcutá teria problemas com Chávez;.

O número
santos
46,57%


O número
mockus
21,48%
Resultado com 99,44% das urnas apuradas

As propostas

Juan Manuel Santos (E) e Antanas Mockus se enfrentarão no segundo turno das eleições colombianas. Veja o que propõem os dois candidatos para as áreas de segurança, economia e política externa

Santos

SEGURANÇA
Continuidade das políticas de luta contra o narcotráfico e grupos armados ilegais

Promoção do retorno dos deslocados pelo conflito armado ao lugar de origem, garantindo sua segurança

Intensificação da cooperação internacional na luta contra o terrorismo

ECONOMIA
Promoção de tratados comerciais e diversificação dos destinos de exportações na América Latina, na Europa e na Ásia

Novos postos de trabalho: até 2014, criação de 2,4 milhões de vagas e regularização de 500 mil empregados informais, buscando reduzir o desemprego para menos de 9%

Fortalecimento dos setores de infraestrutura, agricultura, moradia e mineração, que serão os quatro motores da economia nacional

POLÍTICA EXTERNA
Fomento de investimentos estrangeiros, buscando a criação de valor agregado nacional

Respaldo a exportadores, prestando assessoria no desenvolvimento tecnológico e defendendo o acesso aos mercados externos

Promoção da Colômbia como destino turístico, incorporada à oferta internacional: festivais culturais, turismo arqueológico e ecológico, promoção dos parques naturais

Mockus

SEGURANÇA
Continuidade da ofensiva contra os grupos ilegais, reforçando os trabalhos de inteligência das Forças Militares e da polícia

Intensificação da luta contra a produção, o armazenamento, a distribuição e a venda de drogas, assim como a prevenção do consumo

Nenhuma negociação com grupos armados ilegais ou aceitação de zonas desmilitarizadas

ECONOMIA
Promoção do investimento estrangeiro e vinculação da economia colombiana aos mercados internacionais

Realização de uma reforma tributária estrutural que ordene os impostos nacionais e regionais, aumente a arrecadação e controle a evasão fiscal

Busca do crescimento da economia e da capacitação pessoal por meio da educação


POLÍTICA EXTERNA
Promoção da internacionalização das relações políticas, econômicas, sociais, culturais e ecológicas sobre uma base de igualdade e reciprocidade

Normalização das relações políticas e comerciais com os países vizinhos

Fomento dos processos de integração internacional, com a Comunidade Andina (CAN), a América Latina e com os países do leste


Mortes e sequestro

Três mortes, um sequestro e flagrante de compra de votos marcaram as eleições presidenciais ontem na Colômbia. Mesmo assim, o governo considerou que essas foram as eleições mais tranquilas dos últimos 30 anos. ;O número de incidentes violentos caiu 50% em relação a 2006;, disse o ministro do Interior, Fabio Valencia. Segundo as autoridades, um soldado morreu em confronto com as Farc no departamento de Meta e outro militar em Bolívar. A terceira morte foi de guerrilheiro, entre os departamentos de Tolima e Valle. Também houve confrontos nas cidades de Florida, Valle e Miranda, no departamento de Cauca.

O governo temia que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e outras guerrilhas promovessem ataques para prejudicar o processo eleitoral e colocou 350 mil homens nas ruas. O ministro também indicou que as fortes chuvas afetaram 53 zonas de votação e impossibilitaram a instalação de outras oito.

As autoridades do departamento de Chocó informaram ainda que um delegado do Registro Nacional do Estado Civil, responsável por organizar e difundir os resultados das eleições, foi sequestrado em uma área florestal na sexta-feira. O funcionário eleitoral teria se deslocado por um rio no município de Alto Baudó, quando foi interceptado por cinco homens armados.

Já a entidade independente Missão de Observação Eleitoral (MOE) reportou um total de 17 confrontos armados em todo o país, além de irregularidades no processo. ;Houve compra e venda de votos a favor do candidato do Partido da U, Juan Manuel Santos;, disse o observador Pedro Santana ao canal venezuelano Telesur. Segundo o relatório da MOE, a compra de votos teria ocorrido nos departamentos de Antioquia (oeste), Cauca (sudoeste) e na capital. A MOE contou com o trabalho de 302 ONGs e 2.302 observadores eleitorais, sendo 53 estrangeiros. (VV)