Duas mesquitas de uma minoria religiosa foram palco ontem de um sangrento ataque em Lahore, no Paquistão, que deixou pelo menos 80 mortos. Cerca de 2 mil muçulmanos da seita ahmadi estavam reunidos nas mesquitas dos bairros de Model Town e Garhi Shahu para as orações de sexta-feira quando homens entraram atirando e lançando granadas. Muitos foram tomados como reféns e, logo após os ataques, os responsáveis pela matança enfrentaram a polícia em mais de duas horas de tiroteio. Foi o atentado mais violento no país desde março, quando suicidas mataram 57 pessoas, também em Lahore.
A minoria ahmadi, também conhecida como qadiani, possui cerca de 10 mil fiéis no Paquistão e não é bem-vista pelos muçulmanos ortodoxos, por sua crença de que o fundador da seita teria sido um salvador profetizado pelo Corão, livro sagrado do islã. Por vários anos, o grupo sofreu discriminação do Estado e ataques ocasionais por parte de sunitas radicais, mas nunca de forma tão ampla e coordenada, como ontem. Líderes da comunidade disseram à polícia que vinham recebendo ameaças em Lahore havia mais de um ano.
Quatro homens invadiram primeiro a mesquita no bairro nobre de Model Town. ;Eles entraram pelas portas de trás e começaram a atirar. Estavam com granadas, cinturões de explosivos e outras armas;, disse a policial Rana Ayaz à agência France Presse. De acordo com a polícia, um dos homens explodiu e dois foram presos ; um deles é adolescente. O outro ficou seriamente ferido.
Em Garhi Shahu, o ataque durou cerca de quatro horas. Imagens de uma rede de TV local mostraram um homem no alto do minarete da mesquita, disparando com um fuzil e lançando granadas de mão. Luqman Ahmad, de 36 anos, esperava para iniciar as orações quando ouviu os tiros e, rapidamente, deitou-se no chão. ;Foi como uma guerra acontecendo ao meu redor. Os gritos que ouvi me deram calafrios na espinha. Eu me mantive em oração e pedi a Deus que me salvasse desse inferno;, disse Ahmad à agência Associated Press.
Carnificina
Quando os ataques cessaram em ambas as mesquitas, oficiais descreveram as cenas da carnificina, particularmente em Garhi Shahu. ;Ao menos 80 pessoas foram mortas nos dois ataques;, disse Sajjad Bhutta, chefe da administração da prefeitura de Lahore. Rizwan Nasir, chefe dos serviços de resgate, afirmou que 108 pessoas ficaram feridas, e a polícia continuava à procura dos criminosos.
O primeiro-ministro do Paquistão, Yousuf Raza Gilani, condenou fortemente os ataques e manifestou ;profunda tristeza e pesar pela perda dessas vidas preciosas;. Ataques de extremistas sunitas do Talibã e da Al-Qaeda têm atingido a cidade de 8 milhões de habitantes, próxima à fronteira com a Índia, como parte de uma campanha de violência que já matou mais de 3.300 pessoas em três anos no Paquistão. A violência religiosa, principalmente entre a maioria sunita e a minoria xiita ; à qual pertence o clã Bhutto, da ex-premiê Benazir, assassinada em 2007, e do viúvo e atual presidente, Asif Ali Zardari ; matou mais de 4 mil pessoas na última década.
Atentado na Índia
Pelo menos 80 pessoas morreram e 120 ficaram feridas no descarrilamento de um trem de alta velocidade que fazia o trajeto entre Calcutá e Mumbai, no leste da Índia. Num primeiro momento, um grupo apoiado pelos rebeldes maoístas, o ;comitê popular contra as atrocidades policiais;, assumiu a autoria da sabotagem, em telefonema à agência de notícias Press Trust of India. Horas depois, no entanto, um porta-voz do grupo desmentiu qualquer responsabilidade no descarrilamento. O chefe da polícia do Estado de Bengala Ocidental, Bhupinder Singh, disse acreditar na participação dos rebeldes, que mantêm presença na região. ;É um claro ato de sabotagem. Encontramos panfletos maoístas no local;, acusou o policial. O acidente ocorreu à 1h30 (17h de quinta-feira em Brasília) no distrito de Midnapore Ocidental, um reduto maoísta que se encontra 135km a oeste de Calcutá. O trem, cheio de passageiros que estavam na maioria adormecidos, saiu dos trilhos e colidiu de frente com uma composição de carga.