Líderes de 10 dos 25 países-membros da União Europeia (UE) participam hoje da 6; reunião de cúpula com 33 colegas da América Latina e do Caribe (ALC), em Madri, preocupados com o resultado da reunião de ontem, entre a UE e o Mercosul, realizada também na capital espanhola. ;Decidimos retomar as negociações com o objetivo de chegar a um acordo ambicioso e equilibrado (com o Mercosul);, anunciou ontem o primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, que ocupa a presidência temporária da UE.
Enquanto isso, em Bruxelas (Bélgica), 16 ministros de Relações Exteriores da UE expressaram seu temor pela reabertura das negociações do bloco europeu com o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), bloqueadas desde 2004. Mais da metade dos países da UE temem que o pacto prejudique o setor agropecuário europeu. ;As condições agrícolas não são as mesmas na Europa e no Mercosul;, disse ao Correio, de Paris, o porta-voz da Federação Nacional dos Sindicatos de Exploração Agrícola (FNSEA), Arnaud Lemoine. ;O custo da mão de obra não é o mesmo nos dois blocos; as condições sanitárias da produção não são as mesmas. Nós já temos um desequilíbrio comercial a favor do Mercosul. Se houver um novo acordo, o desequilíbrio vai se acentuar ainda mais e nós vamos perder muitos agricultores na França e na Europa;, ressaltou.
Apesar dos argumentos defendidos pela França, ficou acertado pelos presidentes europeus em Madri que a próxima rodada de conversas ficaria ;a mais tardar para princípios de julho;. ;O acordo Mercosul e União Europeia é essencialmente uma iniciativa da Comissão Europeia (dirigida pelo ex-presidente português José Manuel Durão Barroso) e apoiado pela Espanha. No entanto, Portugal, Itália, Alemanha, França, Áustria, Irlanda, Grécia, entre outros, são contra;, destacou Arnaud. Zapatero defende que um acordo de livre comércio entre os dois blocos pode representar por ano ;5 bilhões de euros suplementares de exportações da UE para o Mercosul e do Mercosul para a UE;.
O mandatário espanhol destacou que a abertura comercial é a melhor resposta à crise econômica, perante ;as tentações de protecionismo;. A vice-presidenta espanhola, María Teresa Fernández de la Vega, também recordou que as negociações entre a UE e o Mercosul eram uma das prioridades da presidência espanhola na UE. ;Devemos abordar o conceito de protecionismo em toda sua extensão. Alguns creem que ele se encontra nas chegadas aos portos;, mas também é ;subsidiar as produções;, concluiu, no fim do encontro, a presidenta argentina, Cristina Kirchner, em referência à ajuda pública que a UE concede aos seus agricultores.
Arnaud reclama que os cinco bilhões de euros de lucro para a UE e para o Mercosul citados por Barroso e Zapatero se baseiam apenas em trocas industriais. ;Eles se esqueceram de todas as trocas agrícolas.; Segundo o porta-voz da FNSEA, o desequilíbrio previsto somente para a agricultura oscilará entre 3 e 5 bilhões de euros. Arnaud, porém, reconhece que os benefícios do acordo UE-Mercosul na área agrícola contemplarão as grandes redes de supermercado e de distribuição. ;Seria uma vantagem para vocês, que teriam melhores preços para o consumo, e para nós, porque são os grandes grupos alemães e franceses que gerenciam esses mercados;, disse.
Já analistas em Bruxelas consideram que, se o acordo não sair durante a presidência espanhola, a oportunidade pode se perder para sempre. E o velho continente, às voltas com uma grave crise financeira, talvez não possa se dar ao luxo de dispensar um novo mercado com 267 milhões habitantes e o quinto Produto Interno Bruto (PIB) do planeta.
Caribe
Assim como ainda falta afinar o tom das negociações com o Mercosul, o bloco europeu precisa melhorar sua relação comercial com a América Latina e o Caribe. A Europa ainda é o segundo sócio comercial da ALC, mas se nada fizer poderá perder o lugar para a China até 2020. No plano político, a reunião de cúpula entre UE e ALC começa hoje sem a presença dos presidentes Hugo Chávez (Venezuela), que indicou problemas na agenda; Raúl Castro (Cuba) e José Mujica (Uruguai) ; ambos por questões de saúde; e de Porfirio Lobo (Honduras). Do lado europeu, as ausências mais sentidas serão as do premiê da Itália, Silvio Berlusconi, e do Reino Unido, James Cameron.