Os tailandeses que protestam contra o governo ignoraram nesta segunda-feira a ordem de evacuar o centro de Bangcoc, antes de propor um acordo para deter a violência, que deixou mais de 30 mortos em quatro dias, entre eles o general "vermelho" Seh Daeng. Pela primeira vez desde o início dos confrontos nas ruas da capital, na quinta-feira à noite, o contato foi restabelecido publicamente entre ambos os campos.
Um dos principais líderes dos "camisas vermelhas", Nattawut Saikar, telefonou para um conselheiro próximo ao primeiro-ministro Abhisit Vejjajiva. "Disse que se os soldados parassem de atirar, pediriam aos manifestantes (que se enfrentam com as forças de segurança) que voltassem a Ratchaprasong", ocupada pelos "vermelhos" desde o início de abril, indicou Korbsak Sabhavasu. Em troca, "os soldados não atirariam", garantiu.
O conselheiro não descartou que a trégua possa desencadear uma retomada das negociações para encontrar uma solução para essa grave crise, que deixou 66 mortos desde o meio de março e perturba cada vez mais a vida diária na capital tailandesa.
O diálogo foi interrompido na última quinta-feira quando o primeiro-ministro anulou sua proposta, feita dez dias antes, de organizar eleições antecipadas para o meio de novembro, exasperado pelas exigências cada vez maiores dos "camisas vermelhas". O exército também se colocou firme ao bloquear a "zona vermelha", com o objetivo de asfixiar os manifestantes, cortando a água, a luz e a distribuição de alimentos. Mas eles seguiram protestando, protegidos por arames farpados, pneus com querosene e barricadas de bambus.
Nos bairros próximos, foram vistas cenas de guerrilha urbana na quinta-feira à noite. Trinta e sete pessoas morreram, todos civis, com exceção de um soldado. Nesta segunda-feira, as autoridades aumentaram a pressão ao exigir que os manifestantes abandonem o local ocupado antes das 15H00 locais (05H00 de Brasília) e advertir que os que violam a lei podem ser condenados a dois anos de prisão.
À noite, não haviam aplicado sua ameaça de proceder "o quanto antes" à dispersão pela força dos quase 5 mil homens e mulheres que decidiram permanecer nesse bairro turístico e comercial da capital tailandesa. Os opositores homenagearam nesta segunda-feira o "general rebelde" Seh Daeng, que faleceu durante a manhã, quatro dias depois de ter sido atingido por um tiro na cabeça quando era entrevistado por um jornalista. Quas 1.000 pessoas compareceram ao funeral de Seh Daeng em um templo budista de Bangcoc.
"Seh Daeng era um general, mas combateu pela democracia, ao nosso lado", elogiou Jatuporn Prompan, um dos líderes dos manifestantes. Seh Daeng, 58 anos, que tinha como nome de batismo Khattiya Sawasdipol, supervisionou as operações de segurança na "zona vermelha".
As autoridades, que negaram qualquer envolvimento na morte, o consideravam um traidor. Ele era acusado de ser o responsável pelas granadas lançadas em Bangcoc nas últimas semanas. Ícone de muitos "camisas vermelhas", o ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra falou das "horas trágicas" vividas por seu país e incentivou "todas as partes a saírem da beira do abismo e a iniciarem um diálogo sincero e real".
No dia anterior, um líder da oposição também havia feito um pedido solene ao rei Bhumibol Adulyadej, de 82 anos, que é considerado a "única esperança" de acalmar a situação. Hospitalizado desde setembro, o monarca nunca se manifestou sobre a crise. A terça-feira deve ser recheada de conflitos na capital, e o governo declarou novamente feriado. Escolas e repartições públicas permanecerão fechadas e o metrô não circulará pelo quarto dia consecutivo.