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As soluções para a crise na Tailândia

Por e-mail, o especialista Paul Chambers, do Instituto Político da Universidade de Heidelberg (Alemanha), falou ao Correio sobre a grave crise política que atinge a Tailândia. Confira a entrevista:

O governo da Tailândia cancelou as eleições e colocou veículos blindados nas ruas. Essas decisões agravaram a crise política?
A decisão do governo de cancelar as eleições e usar a força deve aprofundar as divisões entre os mais pobres da zona rural -- que têm apoiado o ex-premiê Thaksin Shinawatra e as clásses média e alta urbanas, que se opuseram a ele. Muito depende do grau de força usado pelo Estado. Se, em uma tentativa de desalojar os camisas vermelhas, muitas pessoas morreriam, isso certamente exacerbaria as tensões, espalhando um conflito que poderia levar a uma guerra civil. Seh Daeng (general renegado e um dos líderes dos camisas vermelhas) indubitavelmente se tornará mártir pela causa. Essa crise tem ido além de Thaksin. Os líderes do partido Puea Thai e os mais moderados dos camisas vermelhas estão se distanciando do que pode ser comparado a um touro durante um rodeio. Thaksin, Chavalit e líderes moderados dos camisas vermelhas, como Veera Musikapong, parecem cowboys que terão dificuldade em se manter sobre o touro, o movimento dos camisas vermelhas, que tem radicalizado em termos de liderança e de estratégia. Eu não colocaria a responsabilidade pelas tensões crescentes no governo somente. Os líderes dos camisas vermelhas não concordariam em aceitar as eleições de 14 de novembro, clara e simplesmente. Simultaneamente, Abhisit estava enfrentando pressão dos camisas amarelas e dos camisas multicoloridas para endurecer contra os vermelhos.

Como o senhor vê a violência recente em Bangcoc? Seh Daeng está gravemente ferido, enquanto tropas usam tiros e explosões contra os camisas vermelhas...
Eu vejo a violência de hoje (sexta-feira, 14/5), como representando a vitória de elementos reacionários do Exército tailandês na implementação de uma política linha-dura contra os camisas vermelhas. A solução política antes proposta pelo comandante Anupong Paochida e pelo ministro da Defesa, Prawit Wongsuwan, tem sido sabotada pela instância militar radical. Do ponto de vista do Exército, o atentado contra She Daeng pode ser vingança. Em 10 de abril, o coronel Romklao, da Guarda da Rainha, foi assassinado por camisas vermelhas, enquanto o major general Walit ficou gravemente ferido. A escalada de violência oferece aos militares um pretexto para destacar seu papel na política tailandesa. Elementos reacionários do Exército, como Prayuth, estão aproveitando essa oportunidade. Mas isso só vai destruir a democracia do país e empurrar a Tailândia para perto de uma conflagração nacional. A instabilidade política e a "desconsolidação" da democracia estão em um horizonte próximo. Tal cenário poderia intensificar a repressão e as violações aos direitos humanos. Se essa política linha-dura for eficiente, Abhisit e seu vice, Suthep Thaugsuban, podem fortalecer o controle não apenas sobre o Partido Democrata e coalizão, mas também sobre todos os grupos que se opõem a Thaksin. O partido Puea Thai e simpatizantes dos camisas vermelhas apenas se tornarão mais alienados em relação não apenas ao governo, mas também ao sistema.

O senhor vê uma saída política e pacífica para a crise?
A paz só virá à Tailândia de dois modos. Uma opção é que ambos os lados baixem armas, deem um passo atrás e negociem, talvez criando uma grande coalizão de democratas e do partido Puea Thai, no Parlamento. Neste momento, tal cenário é improvável. E eu não acho que o palácio esteja procurando essa solução. Em segundo lugar, um lado precisa usar enorme repressão para forçar a paz, o que é mais provável. Nenhum dos lados apoiará as eleições, a menos que eles próprios formem o governo. Há duas outras possibilidades. Se o palácio apontar um estranho ou azarão como primeiro-ministro, como ocorreu com Anand Panyarachun em 1991 e 1992, uma Constituição mais neutra precisaria ser criada. Outra saída é a Tailândia reverter o que ocorreu em 1977. Oficiais neutros do Exército controlariam o poder e promulgariam uma Constituição mais progressiva. Nem os monarquistas nem os esquerdistas estariam particularmente felizes com esse governo, mas isso abriria espaço para a democratização da Tailândia. O governo de Abhisit não pretende negociar, porque claramente quer manter-se no poder. Teoricamente, o governo pode ficar no poder até janeiro ou fevereiro de 2012.