Uma exposição apresenta, em Washington, objetos artesanais feitos por americanos de origem japonesa internados durante a Segunda Guerra Mundial em campos de concentração dos Estados Unidos porque eles representavam, então, a "ameaça japonesa".
Um pouco depois do ataque a Pearl Harbor, no fim de 1941, pelos japoneses, o presidente Franklin Roosevelt assinou uma ordem em nome da "necessidade militar", autorizando a detenção de cerca de 120 mil homens, mulheres e crianças de origem japonesa.
Dois terços dessas famílias nasceram em solo americano e tinham, portanto, nacionalidade americana. Eles foram, no entanto, enviados durante três anos e meio a dezenas de campos espalhados em regiões desérticas e inóspitas do país, como a Califórnia, o Arizona, o Utah e, particularmente, o Wyoming.
A exposição, que ficará até o dia 30 de janeiro de 2011 na galeria Renwick da Instituição Smithsonian em Washington, é intitulada "The Art of Gaman" ("A Arte do Gaman"), palavra japonesa que significa "suportar o insuportável com paciência e dignidade".
Ela reúne cerca de 120 objetos: pinturas, brinquedos, jóias e instrumentos musicais, mas também objetos como móveis, feitos com materiais improvisados encontrados nos arredores dos campos.
"A mostra é uma ocasião formidável de colocar um rosto nesses prisioneiros que eram literalmente reduzidos a números, atrás de arames farpados durante a guerra", informou Delphine Hirasuna, curadora da exposição.
"Esses objetos são um troféu de espírito humano sobre a adversidade", afirmou.
No início, os prisioneiros fabricaram móveis, cadeiras, pequenas capelas portáteis feitos de madeira de reciclagem para decorar os acampamentos que abrigavam até 200 pessoas.
Depois, deram asas à imaginação e começaram a fazer cestos feitos com ramas secas de cebola, bijuterias de conchas e fios de ferro ornamentados e chaleiras esculpidas em pedras. Jogos de cartas, bonecas com quimonos, quebra-cabeças, flores de papel, tudo lembrando da cultura japonesa.
Certas esculturas, como o busto de Ginger Rogers em mármore ou a coleção de estátuas de animais, foram elaboradas por artistas profissionais, que também estiveram internados.
"Fico triste em saber que muitos artistas se perderam, mas isso me inspira também a ver que foram capazes de utilizar a arte para manter sua dignidade", comentou uma visitante da exposição, Sherry Hirota, de origem japonesa e família americana há três gerações.
Mais de 40 anos depois da guerra, em 1988, o governo americano apresentou desculpas oficiais e compensações financeiras à comunidade pela "grave injustiça" cometida.