O novo primeiro-ministro britânico, David Cameron, reuniu pela primeira vez nesta quinta-feira (13/5), em Downing Street, o histórico governo de coalizão formado pelos até pouco tempo atrás rivais conservadores e liberais-democratas, ao mesmo tempo que persistem as dúvidas sobre essa arriscada aposta.
Cinco lib-dems, encabeçados pelo líder do partido e agora vice-premier Nick Clegg, dividiram a mesa com 18 ministros conservadores - incluindo apenas três mulheres - neste primeiro conselho, que marcou o início na prática do primeiro governo de coalizão da Grã-Bretanha desde a Segunda Guerra Mundial.
Cameron e Clegg reafirmaram o compromisso de trabalhar juntos durante a reunião de pouco menos de uma hora e meia, qualificada de "excelente" e "construtiva" por vários participantes.
"Foi uma reunião de gabinete muito construtiva. Falamos de economia e da situação no Afeganistão, e estamos trabalhando incrivelmente bem como equipe", declarou o novo ministro das Finanças, George Osborne.
Segundo Downing Street, Osborne ressaltou aos colegas a urgência de lutar contra o enorme déficit público britânico e a necessidade de reformar o sistema bancário, área em que trabalhará em colaboração com o ministro de Negócios Vince Cable, considerado o liberal-democrata mais incomodado com a aliança.
Na primeira medida para reduzir os gastos públicos, o governo decidiu uma redução de 5% dos salários dos ministros em relação à administração trabalhista anterior, além de um congelamento das remunerações durante toda a legislatura.
Cameron espera economizar assim três milhões de libras em cinco anos, uma parte ínfima dos seis bilhões (8,85 bilhões de dólares) que prometeu cortar no atual ano fiscal, e que deve detalhar no orçamento de emergência que pretende divulgar até 30 de junho.
De acordo com a BBC, o novo primeiro-ministro também proibiu os ministros de levarem os telefones celulares e Blackberrys para as reuniões de gabinete.
Os ministros saíram relaxados da residência oficial do primeiro-ministro.
"Foi excelente", disse o novo ministro do Trabalho, Iain Duncan Smith.
"É como se trabalhássemos juntos durante anos", completou.
Questionado pela imprensa se a reunião serviu para sepultar antigas rixas, o ministro da Educação, Michael Gove, respondeu: "Não há nenhum machado de guerra para enterrar. Fizemos um grande acordo e o gabinete tem trabalhado muito bem junto".
Este é o mesmo otimismo que Cameron e Clegg tentaram transmitir, com aparente cumplicidade, na terça-feira na primeira entrevista coletiva conjunta nos jardins de Downing Street, na qual afirmaram que a coalizão vai durar porque as duas partes estão unidas por "um programa comum e uma resolução comum para abordar os desafios do país".
A imprensa britânica, que ironiza nesta quinta-feira o "Show de Dave e Nick", destacou que o ato mais pareceu um casamento do que o lançamento de uma coalizão. Também advertiu para os riscos do casamento de conveniência, fruto de várias concessões mútuas, após a lua de mel.
"O casamento de verão foi feliz, mas os testes do matrimônio acabam de começar", destaca o jornal The Guardian.
Após o acordo de terça-feira, que acabou com cinco dias de incerteza criada pela vitória conservadora mas sem maioria absoluta necessária para governar sozinho, os novos deputados começarão a tomar posse na próxima terça-feira.
Uma semana depois, em 25 de maio, a rainha Elizabeth II vai inaugurar a sessão parlamentar em uma cerimônia solene, na qual lerá em um discurso o programa do novo governo, após 13 anos de trabalhismo.