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Negociações indiretas entre israelenses e palestinos começam com troca de farpas

Jerusalém - Iniciadas neste domingo, as frágeis negociações indiretas entre israelenses e palestinos sob a égide dos Estados Unidos já tropeçaram nas divergências relacionadas à colonização judaica em Jerusalém Oriental anexada. Uma autoridade israelense, ligada ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, desmentiu à noite que Israel esteja comprometido a congelar durante dois anos um importante projeto imobiliário de colonização de Jerusalém Oriental, como havia afirmado pouco antes o Departamento de Estado americano. "Não houve compromisso algum de Israel nesta questão", insistiu esta fonte, que pediu para não ser identificada. O anúncio desse projeto no bairro de colonização judaica de Ramat Shlomo havia comprometido em março a tentativa anterior de lançamento de negociações indiretas entre israelenses e palestinos. Ele criou uma grave crise diplomática entre Israel e o governo Obama. Netanyahu "esclareceu, desde o início do processo, que a construção e o planejamento em Jerusalém vão continuar, exatamente como foi o caso em todos os governos de Israel nestes últimos 43 anos", explicou o alto funcionário israelense. Jerusalém Oriental, que não tem sua anexação por Israel em 1967 reconhecida pela comunidade internacional, está no centro do conflito entre israelenses e palestinos. Os palestinos querem fazer de Jerusalém a capital de seu futuro Estado, enquanto os israelenses consideram esta cidade sua capital "eterna e indivisível". Essas declarações "são uma tentativa de colocar em dificuldades ou de desafiar o governo americano", reagiu imediatamente Nimr Hammad, conselheiro do presidente palestino Mahmud Abbas. Elas "são para uso interno de Israel e não servem para o avanço das negociações indiretas", acrescentou Hammad, mencionando "um acordo com o senador (George) Mitchell para que não fossem dadas declarações à imprensa que prejudiquem o clima". As negociações "de proximidade" representam os esforços do governo Obama para desbloquear o processo de paz no Oriente Médio após o congelamento das negociações diretas em dezembro de 2008, depois da guerra de Gaza. Mas elas se desenvolvem em um clima de grande ceticismo, tanto entre os israelenses como entre os palestinos, por causa de divergências fundamentais que persistem em pontos importantes, como o estatuto de Jerusalém, as fronteiras, a colonização judaica e o retorno dos refugiados palestinos. "O governo israelense deve escolher, a paz ou a colonização, e deve compreender que a paz e a colonização não podem ficar juntas", disse o negociador palestino Saeb Erakat. Em um sinal de que as expectativas não são muito grandes, Netanyahu reafirmou que é preciso passar "o mais rápido possível" para negociações diretas. "Não podemos instaurar a paz à distância com um telecomando", afirmou o primeiro-ministro de direita. Durante quatro meses Mitchell deverá viajar entre Jerusalém, Ramallah e Washington para tentar fazer os contatos se intensificarem. Segundo o Departamento de Estado americano, a primeira série de negociações indiretas promovidas por Mitchell foi "séria e extensa". Washington alertou Israel e os palestinos contra qualquer ato que "solape a confiança". "Como as duas partes sabem, se uma ou outra adotar medidas durante estas negociações que, do nosso ponto de vista, solapem gravemente a confiança, reagiremos considerando-os responsáveis, a fim de que as negociações continuem", declarou em um comunicado o porta-voz do Departamento de Estado, Philip Crowley. Mitchell é aguardado no início da próxima semana na região para dar prosseguimento a sua mediação.