Pela primeira vez na história, soldados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) desfilarão na Praça Vermelha em Moscou no domingo (09/05) em ocasião do 65; aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista, em uma parada militar que será a maior desde o fim da URSS.
Cerca de vinte chefes de Estado e de Governo, entre eles o chinês Hu Jintao, o francês Nicolas Sarkozy e a alemã Angela Merkel, assistirão a esta parada digna da época da ex-URSS com velhos tanques soviéticos T-34, mísseis aperfeiçoados e inúmeras peças de artilharia.
No total, cerca de 10.000 soldados russos desfilarão pela Praça Vermelha ao lado de por volta de mil militares de 13 países, entre eles França, Grã-Bretanha, Polônia e Estados Unidos, algo inédito para esses países membros da Otan, organização considerada por Moscou a maior ameaça a sua segurança.
Os pilotos do Esquadrão de Caças Normandie-Niemen, um destacamento do Primeiro Batalhão de Infantaria da Guarda Galesa britânica, soldados do 18; regimento de Infantaria americana e militares poloneses responderam afirmativamente ao convite do Kremlin.
Sua anunciada participação provocou a ira dos comunistas russos, hostis à presença da "canalha Otan" no coração da capital russa.
A Rússia, orgulhosa da "grande Vitória" soviética sobre os nazistas, está mergulhada em uma febre militarista com os preparativos para este acontecimento para o qual as autoridades não pouparam recursos.
Em Moscou, foram exibidos cartazes e bandeirolas com as palavras "Feliz festa da Vitória". Faixas pretas e laranjas, símbolo da coragem dos combatentes, foram distribuídas para a população, e as redes de televisão pró-governo dedicaram uma ampla cobertura ao evento.
A Prefeitura de Moscou planejava inclusive instalar cartazes destacando o papel do ditador Joseph Stalin, considerado por muitos russos o artífice da vitória, mas desistiu de realizar esse polêmico projeto.
"Nosso povo ganhou a guerra mais cruel do século XX, salvou seu país e a Europa do fascismo, e ofereceu a todos o futuro", declarou recentemente o presidente russo, Dmitri Medvedev.
Esta vitória é o "principal símbolo, o fundamento da identidade nacional russa", explicou à AFP o diretor do instituto de pesquisas russo Levada, Lev Gudkov.
Enquanto o número de ex-combatentes deste conflito ainda com vida diminui a cada ano, a importância das celebrações da "grande Vitória" cresce cada vez mais.
"As autoridades utilizam este recurso (...). A Vitória deve provar nossa superioridade", destaca Gudkov.
Entre 2000 e 2008, o ex-presidente Vladimir Putin, hoje primeiro-ministro, "explorou a fundo" esta grande data para lembrar aos russos a glória de seu país, ressalta este especialista.
A Putin se deve o retorno dos tanques e de outros equipamentos militares imponentes à Praça Vermelha, ausentes nos desfiles desde a queda da União Soviética, em 1991.
E para assegurar que o grande desfile de 9 de maio seja realizado sob um belo sol, dez aviões militares espalharão no céu de Moscou 25 toneladas de ácido carbônico e 1.200 litros de nitrogênio líquido para dispersar as nuvens, uma operação cujo custo é estimado em 45 milhões de rublos (1,7 milhão de euros).
Este aniversário será celebrado em diversas cidades da Rússia como em cada 9 de maio, data oficial na Rússia da cessação de hostilidades entre a URSS e a Alemanha em 1945, que pôs fim a um conflito em que morreram 26,6 milhões de soviéticos, segundo as autoridades russas.