O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, defendeu nesta segunda-feira o papel que o Brasil pode desempenhar nas negociações sobre o programa nuclear iraniano com o Ocidente e considerou que a proposta da AIEA continua sendo válida, segundo entrevista concedida ao jornal francês Le Monde.
"O Brasil pode ajudar a criar confiança em relação ao Irã e a eliminar os mal-entendidos e preconceitos", afirmou ele, acrescentando que isso pode acontecer a exemplo da Turquia, país muçulmano dentro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Brasil e Turquia, dois dos 10 membros não permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, se opõem à aplicação de sanções contra o Irã, o que é defendido por quatro dos cinco membros permanentes dessa instância da ONU (Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia).
[SAIBAMAIS]O chanceler brasileiro, que no final de abril esteve em Teerã para preparar a visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos dias 16 e 17 de maio, considerou que a proposta feita em setembro/outubro de 2009 pela Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) sobre o enriquecimento de urânio iraniano continua sendo válida.
"Se a oferta já não é válida, é algo lamentável. Mas creio que não", afirmou Amorim se referindo às declarações do porta-voz do Departamento de Estado americano nesse sentido.
A AIEA propôs ao Irã que, como prova de boa vontade, lhe entregue 70% de seu urânio pouco enriquecido para transformá-lo na Rússia e na França, em combustível nuclear que Teerã diz necessitar para aliminetar um reator de pesquisa científica.
O Irã anunciou que não confia nesse plano, rejeitou a oferta e propôs um intercâmbio de combustível simultâneo e em quantidades menores. A contraproposta iraniana foi rejeitada pelos ocidentais.
Amorim considerou, no entanto, que apesar de se alcançar um acordo neste sentido, o grande problema nas relações entre o Ocdiene e Teerã é a falta de confiança e a desconfiança mútua.
Uma vez mais, o chanceler brasileiro afirmou que as sanções "só farão aumentar a rigidez do Irã".
"Já conhecemos essa história com o Iraque", explicou Amorim, que era diplomata na ONU em 2003, quando os Estados Unidos liderararam a ofensiva contra o regime de Saddam Hussein.
Amorim também foi interrogado sobre sobre as opiniões segundo as quais "o Irã tenta manipular o Brasil".
"Podem dizer que somos ingênuos, que o Brasil está longe, mas não podem dizer o mesmo da Turquia", respondeu o chefe da diplomacia brasileira.
As grandes potências, com os Estados Unidos à frente, suspeitam que Teerã quer se dotar de armas atômicas. O Irã nega e afirma que seu programa nuclear tem fins civis.