Em queda nas pesquisas a uma semana das eleições legislativas e debilitado por uma gafe humilhante, o primeiro-ministro Gordon Brown vai para o tudo-ou-nada na noite desta quinta-feira no último debate televisionado da campanha, dedicado ao seu assunto predileto, a economia.
O chefe de governo trabalhista poderia ter chegado em posição um pouco mais confortável a este terceiro duelo diante das câmeras contra os líderes conservador David Cameron e liberal-democrata Nick Clegg. A economia é um dos raros temas em que Brown ganha pontos nas pesquisas. Sua gestão da crise foi seguida por muitas capitais no mundo.
Mas sua participação foi comprometida pela "catástrofe política da campanha" ocorrida na quarta-feira, como considerou The Guardian (esquerda).
Durante uma visita a Rochdale (noroeste), Brown foi traído por um microfone que permaneceu aberto: ele chamou Gillian Duffy, uma aposentada com quem havia conversado, de "bigoted" (uma pessoa sectária, intolerante, e até, limitada).
O comentário foi instanteamente divulgado pela imprensa e a situação obrigou o primeiro-ministro a ir à residência da idosa - que se tornou uma celebridade nacional - para pedir desculpas.
Mas não o esforço de Brown para abafar a situação não adiantou. O "bigotgate" foi o grande destaque da imprensa.
A derrapagem "não poderia ter acontecido em um momento pior", ressalta The Guardian.
O grande avanço dos liberais-democratas, graças ao bom desempenho de Nick Clegg nos dois primeiros debates, deixou os trabalhistas em terceiro lugar na maior parte das pesquisas.
As sondagens divulgadas nesta quinta-feira dão aos conservadores entre 34% e 36%, aos Lib Dems de 26 a 31% e aos trabalhistas de 27 a 29%, levando os analistas a preverem mais uma vez um Parlamento sem maioria absoluta.
O debate desta quinta-feira é considerado a última chance de Brown. O ex-ministro das Finanças se apresentará como o melhor nome para reduzir a dívida pública, que supera os 71% do PIB, sem ameaçar a frágil retomada ( 0,2% apenas no primeiro trimestre).
Ele atacará novamente o programa de austeridade dos conservadores, que, na sua opinião, é precipitado, enquanto David Cameron se preocupará em denunciar o "desperdício" de dinheiro público e Nick Clegg defenderá seu polêmico projeto de exonerar de impostos os britânicos com renda inferior a 10.000 libras por ano.
O programa econômico recebeu nesta quinta-feira o apoio de cem economistas britânicos e, segundo uma pesquisa ComRes para o Independent, Brown e seu ministro das Finanças Alistair Darling têm a confiança da maioria das pessoas consultadas no que diz respeito à economia.
[SAIBAMAIS]Brown quis deixar para trás o "bigotgate", afirmando nesta quinta-feira durante uma etapa de sua campanha: "Ontem foi ontem. Hoje quero falar do futuro da economia".
"Creio realmente que quando as pessoas forem votar, quando depositarem sua cédula na urna, pensarão na situação geral, em nosso futuro como país", e não na gafe, disse Darling à BBC.
Algumas horas antes do debate, o primeiro-ministro perdeu o apoio da revista liberal britânica The Economist, depois de ter sido privado do do tablóide The Sun. A The Economist apoiou os trabalhistas de Tony Blair nas últimas eleições, em 2005, mas considera o trabalhismo de Brown "sem fôlego" e pede que os eleitores votem nos Tories.