O ex-prefeito de Bogotá, Antanas Mockus, candidato do Partido Verde, aumentou suas chances de vencer as eleições presidenciais do dia 30 de maio na Colômbia, colocando em risco a continuidade do "uribismo", que vem dominando o país nos últimos oito anos.
Há até poucas semanas, analistas e pesquisadores davam como certo que a Presidência seria conquistada pelo candidato governista Juan Manuel Santos, ex-ministro da Defesa do presidente Alvaro Uribe, fundador do Partido Social de Unidade Nacional (direita), e que reivindica o legado mais valorizado do atual governo: o combate à guerrilha.
Mas Mockus, um professor de matemática e filosofia, deu uma guinada na campanha eleitoral e é visto pelos analistas como um fenômeno "inédito e desconcertante" no país, que deixaria uma escassa margem de manobra ao "uribismo".
"A subida de Mockus está mostrando que nos setores urbanos, que é seu nicho mais forte, há um desejo de mudança. Isto não estava nas previsões de ninguém e surpreendeu não apenas a campanha de Santos, e sim todo o país", disse à AFP o analista político Alfredo Rangel.
Enquanto Santos manteve ao longo dos últimos meses a liderança nas pesquisas, mas sem avançar, Mockus cresceu de menos de 10% da intenção de votos até o posto de vencedor em um eventual segundo turno, que se realizaria no próximo dia 20 de junho.
O candidato do Partido Verde, filho de imigrantes lituanos, não pertence à classe política tradicional da Colômbia, e quando se tornou prefeito de Bogotá (1995-97 e 2001-2003) o fez como um acadêmico emprestado à ascensão da cultura cidadã.
Agora, seus valores sobre honestidade, transparência e o valor sagrado da vida cativam o eleitorado, nesse país que sofre com décadas de conflito com a guerrilha, com a penetração do narcotráfico e o paramilitarismo na política.
Mas, além disso, "Mockus representa uma alternativa a oito anos de um estilo de governo autoritário. Mostra-se um homem muito mais racional e deliberante", opinou o cientista político Rubén Sánchez, da Universidade do Rosário.
Também apresenta como atrativo a garantia de manter firmeza ante as guerilhas e os grupos criminosos, e ainda que não tenha informado seu programa econômico, mostra-se favorável às políticas de abertura econômica, os pontos mais populares do governo de Uribe.
Ante esse panorama, as opções do governismo se reduziriam a "aproveitar os erros de Mockus e a explorar sua inexperiência nos grandes temas de governo, como os projetos de saúde ou emprego, assim como despertar temores no que diz respeito ao que poderia ser uma ameaça de fortalecimento da guerrilha ou de uma eventual agressão da Venezuela", afirmou o analista Enrique Serrano.
Os aliados do governo, formados por cerca de seis partidos que gravitaram ao redor de Uribe, não conseguiram uma candidatura única para essas eleições, ante a impossibilidade de o atual presidente candidatar-se a uma nova reeleição.
Mas, já o ex-ministro de Agricultura Andrés Felipe Arias, muito próximo de Uribe e que perdeu para a ex-chanceler Noemí Sanín a candidatura do Partido Conservador (parte da coalizão do governo), começou a busca por uma aproximação com o partido da Unidade Nacional, de Santos.
"Os colombianos não podem se deixar levar pela euforia juvenil ou pelas mensagens do Twitter, já que a guerrilha não pode ser combatida com girassóis ou lápis (símbolos da campanha de Mockus)", disse Arias nesta quinta-feira, ao comentar a aliança para o segundo turno.
Mas, para Sánchez, nem sequer esse acordo garantiria a vitória do uribismo, porque o fenômeno mostrado na campanha de Mockus "não se dobra às dinâmicas tradicionais de compra de votos" e a influência da máquina dos partidos seria limitada.