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Noriega exige repatriação para o Panamá como ex-prisioneiro de guerra

O ex-ditador panamenho Manuel Antonio Noriega exigiu nesta terça-feira (27/4) ser repatriado para o Panamá depois do fim de seu ;cativeiro nos Estados Unidos; como prisioneiro de guerra ao prestar declaração em uma audiência pública ante um juiz que deve decidir sobre sua eventual prisão preventiva.

"Atenho-me ao direito estabelecido pela Convenção de Genebra (...) à repatriação depois do cativeiro como prisioneiro de guerra", declarou Noriega no Palácio da Justiça, depois de ter chegado esta manhã a Paris extraditado dos Estados Unidos.

Noriega, que purgou 17 anos de prisão nos Estados Unidos, chegou ao aeroporto parisiense de Roissy no voo comercial da Air France que aterrissou às 07H56 local (02H56 de Brasília).

Imediatamente depois de sua chegada, foi transferido para o Palácio da Justiça em Paris, onde o juiz o notificou sobre sua ordem de prisão.

"O promotor da República notificou ao general Noriega sua ordem de prisão internacional", indicou à imprensa um de seus advogados franceses, Olivier Metzner, um renomado especialista penal.

Noriega compareceu em seguida ante o juiz que determinará se ele será colocado em prisão preventiva à espera de seu julgamento depois que a secretária de Estado Hillary Clinton assinou a ordem de extradição.

A Corte Suprema dos Estados Unidos havia rejeitado, no dia 22 de março, um recurso apresentado pelo ex-homem forte do Panamá contra a extradição.

Aos 76 anos, Manuel Noriega foi deposto e depois capturado, em 1989, durante uma intervenção americana no Panamá. O ex-ditador deste país da América Central ficou preso na Flórida (sudeste) até setembro de 2008, cumprindo 17 anos de prisão por tráfico de droga.

A justiça francesa o condenou à revelia em 1999 a 10 anos, mas pretende organizar um novo julgamento por lavagem de dinheiro.

O governo panamenho informou que respeita a decisão "soberana" dos Estados Unidos de extraditar Noriega, mas esclareceu que insistirá em pedir sua repatriação para que cumpra suas condenações no Panamá.

A decisão do governo dos Estados Unidos "não significa que o Panamá não vá insistir, pelos caminhos diplomáticos e legais, para que o senhor Noriega regresse a seu país e cumpra as penas impostas pelos tribunais panamenhos", disse o chanceler Juan Carlos Varela.

Noriega foi condenado no Panamá a três penas de 20 anos de prisão cada por crimes contra os direitos humanos.

Por ter sido capturado durante a invasão americana do Panamá, Noriega acabou sendo reconhecido pela Justiça americana como prisioneiro de guerra.

Como tal, tinha certos privilégios na prisão, isolado dos presos e mantendo a patente de general.

Quando se apresentava ao Tribunal Federal de Miami, Noriega não aparecia com a roupa de detento, e sim com seu uniforme de general, incluindo insígnias e condecorações.

Até mesmo na prisão, Noriega usava uniforme militar e exigia ser chamado de general.

Nascido em 1934 em uma família pobre de origem colombiana, Noriega almejava ser psiquiatra, mas abandonou seus sonhos por razões econômicas e entrou para o Exército.

Após participar, em 1968, de um golpe militar contra o presidente Arnuldo Arias, iniciou sua ascensão no ano seguinte, ao defender o general Omar Torrijos em uma tentativa de derrubada do poder. Convertido em um dos mais próximos do ditador, Torrijos o colocou para dirigir os serviços de inteligência.

Noriega entrou, então, em contato com os serviços secretos americanos, muito presentes no Panamá pela vigilância do Canal. Se tornou um informante regular, recebendo mais de 320 mil dólares até 1986 em pagamentos por seus serviços.

Acusado no início dos anos 70 de cumplicidade no tráfico de drogas para os Estados Unidos, e criticado por seus brutais métodos contra a oposição, Noriega demonstrou sua habilidade para se manter no poder por quase 20 anos.

Desde 1972, houve projetos em Washington para eliminar fisicamente este incômodo aliado, mas o presidente Richard Nixon os reprovou no último momento.

No início dos anos 80, Noriega forjou uma sólida reputação de homem mais temido do Panamá. Após a morte de Torrijos em um misterioso acidente aéreo em 1981, se tornou o homem forte do país, como general e chefe da guarda nacional.

Os Estados Unidos o acusaram em 1988 de cumplicidade no tráfico de drogas. Foi acusado de transformar o Panamá em uma passagem de drogas e centro de lavagem de dinheiro, tendo como troca milhares de dólares em subornos do Cartel de Medellín.

Noriega derrubou o presidente Eric Delvalle, que tentou destituí-lo, ignorou as sanções econômicas americanas, e apelou ao povo inaugurando uma retórica terceiro-mundista, antes de anular os resultados das eleições vencidas pela oposição.

No dia 20 de dezembro de 1989, os Estados Unidos invadiram o Panamá. O general permaneceu duas semanas refugiado na Nunciatura, antes de se render e ser transferido a uma prisão da Flórida como "prisioneiro de guerra".

Foi condenado a 40 anos por narcotráfico, mas depois viu sua pena reduzida a 30 anos, e, posteriormente, a 17 anos por boa conduta.