Jornal Correio Braziliense

Mundo

Cabo nazista Paul Schaefer morre no Chile aos 88 anos

SANTIAGO - O cabo nazista e fundador da "Colônia Dignidade" - um enclave de alemães no Chile -, Paul Schaefer, morreu neste sábado em Santiago aos 88 anos em consequência de um problema cardíaco no hospital da penitenciária em que cumpria pena por abusos sexuais e tortura, informaram fontes carcerárias. As condições de saúde de Schaefer agravaram-se muito em suas últimas horas de vida. Ele faleceu às 7h20 locais (8h20 de Brasília) vítima de uma doença cardíaca grave, afirmaram as mesmas fontes. "A causa imediata da morte foi uma parada cardiorrespiratória devido à deficiência coronária da qual ele padecia e devido à sua idade", informou o juiz Jorge Cepeda, que investiga os crimes cometidos na Colônia Dignidade. Receba Schaefer, filha adotiva do ex-militar, chegou ao hospital penitenciário de Santiago para se encarregar dos trâmites referentes ao enterro. Junto com um grupo de colonos alemães, Schaefer fundou em 1961 a Colônia Dignidade, na região de Maule, no sul do Chile, uma sociedade beneficente para crianças abandonadas. Mas posteriormente surgiram informações sobre abusos cometidos nesse local, o que obrigou Schaefer a deixar o país. Entre 1997 e início de 2005 não se sabia o paradeiro dele até que foi capturado pela polícia argentina em março desse último ano, e depois trasladado ao Chile para ser processado por diversos crimes contra os menores que viviam no enclave. O soldado nazista recebeu pena de 7 anos de prisão por homicídio qualificado, três anos por infração à Lei de Controle de Armas, mais três anos por torturas e 20 anos por abusos sexuais contra menores. A Colônia Dignidade também foi vinculada à ditadura do ex-ditador Augusto Pinochet (1973-1990). A Comissão da Verdade, criada durante a redemocratização do país, determinou que as instalações dos colonos serviram para enclausurar presos políticos. Depois de ser condenado, Schaefer foi preso em uma penitenciária de segurança máxima, mas seu estado de saúde obrigou seu traslado ao hospital penitenciário, onde morreu neste sábado. O advogado Hernán Fernández, que representa diversas das vítimas de Shaefer, afirmou que sentenças de vários casos de abusos ainda estão pendentes, tanto contra o cabo como contra seus colaboladores. "A morte de Paul Schaefer deve dar um impulso final para que exista justiça e reparação", afirmou. Depois da saída de Schaefer, a Colônia Dignidade passou a se chamar Vila Baviera, cujos habitantes receberam o apoio do governo e tratamento psicológico, enquanto diversos colonos voltaram à Alemanha. O presidente do Chile, Sebastián Piñera, afirmou neste sábado que é necessário endurecer as penas por abusos sexuais contra crianças ao comentar a morte de Schaefer. "A morte de Paul Schaefer impede continuar a acusação penal porque não há acusação penal nesse mundo onde estão os mortos. No entanto, sabemos que há outra justiça que nunca termina, que é a justiça divina", disse o governante. O presidente, que visitou no sábado um lar para menores na zona central do país, assegurou que "não vai ficar impune nenhum crime que seja cometido contra uma criança do Chile". "Vou me preocupar pessoalmente para que todos os órgãos do Estado tenham recursos necessários, e se tivermos de endurecer as penas (contra aqueles que abusam de crianças), vamos endurecê-las".