O Papa Bento XVI evocou rapidamente neste sábado, no primeiro dia de visita a Malta, as ferias da Igreja antes de falar sobre a imigração e defender uma nova evangelização frente "às ameaças que psam sobre a dignidade do casamento e da família".
"Malta ama o Cristo que ama sua Igreja que é seu corpo, mesmo que esse corpo esteja ferido por nossos pecados", afirmou, durante um breve contato com a imprensa no avião que o levava a La Valeta, em clara referência aos escândalos de pedofilia que sacodem a Igreja há meses.
Ele também mencionou a questão da imigração, considerando que assegurar uma vida digna aos imigrantes representa "o grande desafio de nosso tempo".
Apesar das dificuldades relativas aos escândalos que o encurraram, o Sumo Pontífice, sorridente e com aparência serena, recebeu uma calorosa boas-vindas de cerca de 100.000 pessoas que saíram às ruas para aclamar o Papa.
Quando apareceu ao cair da noite no balcão do palácio presidencial, Bento XVI foi aclamado por uma multidão de jovens que cantaram o ;Parabéns pra você; para comemorar seu 83o. aniversário.
Em visita à gruta de São Paulo, em Rabat, Bento XVI orou diante de uma multidão entusiasmada e defendeu a nova evangelização em prol do casamento e da família.
Esta viagem, na véspera do quinto aniversário de seu pontificado, presta homenagem a São Paulo que, segundo a tradição, naufragou há 1950 anos frente à ilha que em seguida se cristianizou.
Pressionado pela opinião pública para que reaja diante da avalanche de revelações de abusos, o Papa também poderá se reunir, com a maior discrição, com um grupo de homens que foram vítimas de padres pedófilos em um orfanato maltês nos anos 1980.
Estes haviam ameaçado se manifestar durante a visita de Bento XVI a Valletta, mas depois desistiram diante da promessa de um encontro em junho com o principal investigador da Congregação para a Doutrina da Fé, monsenhor Charles Scicluna.
Também mantêm a esperança de um encontro, mesmo que breve, com Bento XVI, para que este peça "desculpas".
O porta-voz do Vaticano indicou que o Papa, que já condenou várias vezes esses atos e se reuniu com as vítimas nos Estados Unidos e na Austrália em 2008, está disposto a ouvir outras, "mas não sob a pressão midiática".
Esta visita papal ao menor país da União Europeia (443.000 habitantes) é complicada por outro caso de um suposto padre pedófilo que vive afastado em Malta, depois de ter abusado de um menino de 12 anos no Canadá nos anos 1980.
De acordo com recentes revelações, 45 casos de pedofilia foram denunciados à cúria maltesa desde a criação de uma comissão especial em 1999, dos quais 26 foram considerados verídicos.
Mas em Valletta, as manifestações de hostilidade foram apagadas. As enormes faixas de boas-vindas ao Papa, que haviam sido marcadas com insultos, foram substituídas e as ruas estão decoradas com as bandeiras de Malta (branco e vermelho) e do Vaticano (branco e dourado).
Em mensagens de rádio e televisão, o presidente maltês George Abdala pediu aos seus compatriotas que recebam o Papa "com entusiasmo e com os braços abertos".
"O receberemos com alegria e gratidão", disse o núncio apostólico em Malta, monsenhor Tommaso Caputo, que considera que o Papa atravessa "momentos de sofrimento", mas conserva "sua serenidade".
Para o monsenhor Caputo, esta viagem "é uma peregrinação às raízes da fé".
De fato, esta visita, realizada entre dois aniversários --os 83 anos de Bento XVI na sexta-feira e os cinco de seu pontificado na segunda-feira-- lembra São Paulo, que, segundo a tradição, naufragou há 1950 anos frente à ilha que então cristianizou.
Para esta 14; viagem de seu pontificado no exterior - e a primeira no ano - o Papa deverá também mencionar "as raízes cristãs da Europa" neste país onde os católicos representam 95% da população. Em Malta, possui quase uma igreja por quilômetro quadrado e é um dos últimos países do mundo onde o divórcio é proibido.
É a terceira vez que a ilha de Malta recebe um Papa. João Paulo II a visitou em 1990 e em 2001.