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Brasil e Turquia se unem para encontrar solução ao acordo nuclear do Irã

O governo brasileiro acredita que a negociação continua sendo a melhor maneira de se chegar a uma solução para o problema relativo ao programa nuclear do Irã. A base para novas conversas sobre o assunto é a proposta feita pela Agência Internacional de Energia Atômica (Aeia) que foi recusada pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad.

Até outubro do ano passado, o Irã enriquecia urânio - principal elemento na produção de bombas atômicas - a 3,5%, que permite alguma utilizações não bélicas do produto. Para se ter uma ideia, é necessário o enriquecimento a 20% para fazer funcionar um reator nuclear e a 95% para a produção de uma bomba.

O presidente iraniano afirma que a intenção do governo é usar o urânio enriquecido para pesquisas com fins medicinais. O enriquecimento do urânio é o processo que altera sua composição original, transformando o mineral praticamente inofensivo encontrado na natureza em potente gerador de energia.

O grande problema está na chamada "simultaneidade" exigida pelo Irã. A proposta da Agência Internacional de Energia Atômica previa que o Irã entregaria todo o seu estoque de urânio a países que pudessem processá-lo até um nível de enriquecimento considerado impraticável para a produção da bomba atômica, mas compatível com pesquisas médicas. Em troca, o Irã receberia, meses depois, o combustível necessário às essas pesquisas.

O Irã concordou apenas com a entrega de uma parte do seu estoque de urânio enriquecido em 3,5%, exigindo o imediato recebimento do material enriquecido a 20%, sem a necessidade de esperar que o produto fosse processado em outros países.

A exigência do Irã despertou imediata desconfiança da comunidade internacional, uma vez que o urânio enriquecido a 20% poderia ter sua capacidade de gerar energia aumentada até os limites necessários à produção de uma bomba atômica.

O resultado da exigência iraniana é que os Estados Unidos e outros países têm aumentado a pressão para que o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) aprove sanções contra o Irã, uma vez que Mahmoud Ahmadinejad não concorda em interromper seu programa de enriquecimento de urânio.

O impasse ainda não foi resolvido e, por isso, o Brasil e a Turquia estão dispostos a intervir não apenas como intermediários nas discussões que envolvem um assunto extremamente polêmico mas, também, como conciliadores na busca de uma solução pacífica.

Neste fim de semana, o assunto foi retomado no Itamaraty durante encontro do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e o ministro turco de Negócios Estrangeiros, Ahmed Davutoglu. Brasil e Turquia acreditam que podem intermediar a busca por uma solução porque são dois países que mantêm boa integração com o Ocidente e mantêm relações amigáveis com o Irã.



"Recentemente, mandamos uma missão comercial ao Irã e a Turquia tem relações seculares com o país", disse o ministro. "Acredito que temos a possibilidade de ser ouvidos sem despertar desconfiança ou animosidades". Segundo Amorim, não é possível informar detalhes sobre a intermediação brasileira e turca neste assunto "porque esta é uma questão que precisa ser discutida com delicadeza. É preciso conversar, verificar os pontos de aceitação entre o Irã e a Agência Internacional de Energia Atômica. Existem fórmulas que podem resolver o problema, não é impossível chegar a um consenso, mas é necessário criar confiança dos dois lados".



"Se Brasil e Turquia conseguirem este acordo", disse o ministro, "teremos um passaporte para conversar sobre outros ítens da ampla agenda nuclear e até sobre outras agendas que possam existir entre o Irã e os demais países. É com este espírito que Brasil e Turquia querem agir".