O Papa Bento XVI celebra na segunda-feira (19/4) cinco anos de um pontificado repleto de escândalos, que vão da pedofilia de padres às tensões com muçulmanos, judeus e anglicanos, o que diminui em muito seu prestígio como líder da Igreja católica.
O Papa teólogo e tímido, que completa 83 anos nesta sexta-feira (16/4) é criticado desde o início de seu pontificado, quando se esqueceu, em sua primeira audiência com a imprensa internacional, de fazer o cumprimento em espanhol, o idioma da maioria dos católicos do mundo.
O aniversário chega em um dos piores momentos devido à chuva de denúncias contra padres pedófilos na Europa e nos Estados Unidos e pelo silêncio cúmplice que o Vaticano manteve por décadas.
"Não lembro de um pontificado da era moderna que tenha vivido uma crise maior", reconhece em uma conversa com a AFP o especialista em assuntos do Vaticano, Marco Politi.
"Tantas controvérsias acabaram por dividir os católicos, que sentem que a Igreja está dividida e não tem o mesmo poder de influência que existia com João Paulo II", afirma.
Ninguém poderia imaginar em 2005 que em poucos anos surgiria uma avalanche de polêmicas, começando em setembro de 2006, quando despertou a ira do mundo muçulmano ao vincular o Deus do Islã com a violência e a irracionalidade, em uma conferência na Universidade alemã de Ratisbona, onde foi um de seus professores.
Aos inúmeros escândalos se soma o gerado pela decisão de tirar o veto dos ultraconservadores lefebvrianos em janeiro de 2009, assim como o de autorizar a introdução da missa em latim, tão desejada pelos nostálgicos dos ritos tradicionais.
O perdão papal chegou acompanhado por outra crise sem precedentes, ao absolver o bispo negacionista Richard Williamson, gerando uma das maiores crises com os judeus, que também não o perdoam por sua vontade de canonizar o controverso Pío XII, o Papa do silêncio, questionado por sua atitude frente ao holocausto nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
O primeiro pontífice alemão da era moderna, que excomungou nos anos 80 sem titubear os adeptos da teoria da libertação da América Latina quando era responsável pela Congregação da Doutrina da Fé, sofreu uma derrota notável em sua primeira e única viagem à América Latina, ao Brasil, em 2007.
Durante essa viagem, não apenas atacou os adeptos dessa teologia por sua politização, como também elogiou a evangelização do continente, guardando silêncio sobre o genocídio indígena cometido durante a conquista espanhola, o que gerou fortes reações de líderes e políticos.
Bento XVI precisou responder posteriormente, reconhecendo o "sofrimento e as injustiças" sofridas por esses povos.
"É um pontificado que passou de crise em crise", sustenta o especialista americano John Allen.
Também foi criticada sua visão da luta contra a Aids, explicada durante sua primeira viagem em 2009 à África, onde foi contra o uso de preservativos, gerando um protesto oficial do parlamento belga.
"Este Papa foi censurado por governos ocidentais, algo completamente novo", assegura Politi.
Para um de seus maiores detratores, o teólogo suíço Hans Kung, seu pontificado se mostra cada vez mais "como o das oportunidades desperdiçadas, não como o das ocasiões aproveitadas", escreveu.
"Há uma crise de confiança e de liderança sem precedentes" na Igreja, afirmou Kung.
Os defensores do papado, como o escritor católico italiano Vittorio Messori, elogiam sua correta gestão como funcionário da Santa Sé no fenômeno da pedofilia dentro da Igreja, após ser acusado neste mês pelas imprensas americana e alemã de encobrir as denúncias de padres pedófilos por décadas.
Também apreciam seus livros, homilias, catequeses e, sobretudo, suas três encíclicas.
Através delas, fala de temas religiosos elevados para cumprir a meta que fixou há cinco anos, segundo rumores que ecoam nos corredores do palácio apostólico: "Encher igrejas e não estádios, ao contrário de seu predecessor, João Paulo II".