Um ex-bispo da diocese de Oakland, que na década de 1980 escreveu ao Vaticano para pedir a expulsão de um padre californiano acusado de pedofilia, garantiu que o Papa João Paulo II se opunha nessa época a expulsar sacerdotes, revela neste sábado (10/04) o jornal New York Times.
O ex-bispo John Cummins explicou que nesse período a Igreja enfrentava a saída de muitos sacerdotes, o que fez com o que o então Papa "retardasse o processo" contra os acusados de pedofilia, segundo o jornal.
Uma série de cartas entre o Vaticano e a diocese californiana de Oakland, das quais a AFP obteve uma cópia na sexta-feira, questionavam o atual papa, Bento XVI, por sua falta de ação na década de 1980 contra o padre californiano denunciado, mas não mencionavam o então Papa, João Paulo II.
Segundo as cartas, o padre Stephen Kiesle pediu para ser expulso após reconhecer seus abusos sexuais de menores, pedido enviado ao Vaticano pelo então bispo Cummins em 1981.
O Vaticano respondeu que desejava ter mais informações sobre o assunto. Cummins assim o fez e as enviou em fevereiro de 1982 ao cardeal Joseph Ratzinger - hoje o papa Bento XVI -, então chefe da Congregação para a Doutrina da Fé.
Apesar das repetidas solicitações da diocese de Oakland, no dia 6 de novembro de 1985 Joseph Ratzinger respondeu ao bispo John Cummings.
Em sua carta, escrita em latim, o cardeal Ratzinger reconhece a "gravidade" da situação, mas se mostra reticente em tomar uma decisão imediata, preocupado com os efeitos que isso poderia causar na Igreja.
Para o futuro Papa, o assunto deveria ser objeto de "uma atenção particular, que requer muito tempo".
Ao ler a carta, o padre George Mockel, da diocese de Oakland, considerou que o Vaticano "se sentaria sobre o assunto até que Steve (Kiesle) envelhecesse". "Creio que é lamentável", afirmou.
O padre Kiesle foi finalmente expulso em 1987.