O presidente deposto do Quirguistão, Kurmanbek Bakiyev, voltou a afirmar que não tem a intenção de renunciar e acusou os novos governantes autoproclamados neste país estratégico da Ásia Central de terem causado muitas mortes durante a revolta popular desta semana.
[SAIBAMAIS]Em uma entrevista concedida à Agência France Presse na cidade quirguiz de Jalal-Abad (sul), onde tem seu feudo, Bakiyev, de 60 anos, negou ter dado ordem às forças de segurança para que abrissem fogo contra os manifestantes na capital, Biskek.
Também descartou que Rússia ou Estados Unidos, ambos com bases militares nesta ex-república soviética, tenham desempenhado um papel nos recentes distúrbios.
"Não sou eu quem tem sangue nas mãos", disse Bakiyev, com a fisionomia cansada, mas, ao mesmo tempo, mostrando-se relaxado durante o tempo que durou a entrevista.
É a primeira confirmação independente do paradeiro de Bakiyev, que se viu obrigado a fugir de Biskek na quarta-feira devido aos confrontos entre a polícia e manifestantes, que saquearam edifícios governamentais. Pelo menos 75 pessoas morreram nos enfrentamentos e outras 1.520 ficaram feridas, segundo um registro oficial.
"Essas pessoas que organizaram homens armados para atacar a Casa Branca têm sangue nas mãos. É a oposição que tem as mãos manchadas de sangue", lançou Bakiyev, vestido com um traje diplomático azul.
Bakiyev insistiu que nunca deu ordem para que as forças de segurança abrissem fogo contra os manifestantes, mas assegurou que a legislação quirguiz permite o uso da força em caso de ataque às dependências presidenciais. "Não dei ordem para disparar" em Biskek na quarta-feira, afirmou.
Os adversários de Bakiyev, liderados pela ex-ministra das Relações Exteriores Rosa Otunbayeva, atual chefe de um governo provisório instaurado pela oposição, exigiram em diversas oportunidades que o presidente renuncie.
Mas ele reiterou mais uma vez que não tem intenção de agir dessa forma. "Não planejo sair do país e não vou deixar a Presidência", voltou a dizer nesta sexta-feira.
O bastião do presidente deposto se concentra no sul do país, perto de Jalal-Abad e nas imediações da cidade de Osh, mas um jornalista da AFP que esteve em ambas as cidades constatou que o apoio ao mandatário diminui a passos largos.
Já Rosa Otunbayeva repetiu nesta sexta-feira que "no sul os partidários de Bakiyev tentam fazer com que retorne ao poder".
Bakiyev aceitaria negociar com os novos líderes. "Estou disposto a me sentar à mesa de negociações com a oposição", assegurou.
Ele reconheceu também que o país tem uma composição étnica instável formada por quirguizes, uzbeques e tadjiques, mas durante a conversa descartou a possibilidade de uma guerra civil. "Não conto com uma guerra. Meu objetivo principal é prevenir o conflito e a guerra civil", disse.
Enquanto Bakiyev concedia a entrevista, cerca de 200 pessoas permaneciam concentradas diante do principal prédio governamental de Jalal-Abad.
Há rumores de que o governador, ligado a Bakiyev, fugiu durante a noite e que aumenta a preocupação com a crescente tensão étnica.
Bakiyev descarta que forças estrangeiras tenham fomentado os distúrbios, e citou concretamente Rússia e Estados Unidos.
"Não creio que Rússia ou Estados Unidos estivessem envolvidos nesses fatos", afirmou Bakiyev, que não quis especificar em que se baseava essa afirmação.