Os familiares dos dois funcionários da Reuters mortos em 2007 por um erro do exército americano - revelado através de um vídeo postado na internet - pediram nesta quinta-feira que os responsáveis sejam julgados.
"A verdade finalmente veio à tona e todo mundo viu. Queremos agora que o piloto americano seja julgado pela justiça internacional e queremos indenizações porque ele deixou órfãos", afirmou à AFP Safa Chmagh, de 35 anos, o irmão de Said Chmagh, motorista da Reuters morto em 12 de julho de 2007.
"O piloto matou inocentes desarmados e, entre eles, um fotógrafo que estava com seu equipamento visível e, além disso, durante a evacuação dos feridos, abriu fogo pela segunda vez", acrescentou Safa.
O filho de Chmagh, Salwan, de 20 anos, se disse consternado ao ver as imagens difundidas pela televisão e vistas por mais de 4 milhões de pessoas na internet.
"Quero que o piloto americano que matou meu pai seja julgado. Por que ele fez isso? Por acaso as vítimas não eram inocentes? Não eram seres humanos?", indagou.
O pai de Namir Nuredin Hussein, fotógrafo da Reuters que tinha 22 anos quando perdeu a vida, também reclamou por justiça, pedindo que os soldados americanos sejam levados ante a Corte Internacional de Justiça (CIJ) de Haia. "Mataram inocentes a sangue frio", afirmou, por telefone, Nuredin Hussein, de 63 anos.
"Fiquei muito triste ao ver as imagens, mas hoje pelo menos o povo americano conhecerá a verdade sobre seu exército, que gosta de matar as pessoas", concluiu.
A Casa Branca qualificou o vídeo de "trágico". "Não sei se o presidente (Barack Obama) viu o vídeo divulgado na Internet. Obviamente é algo extremamente trágico", disse o porta-voz Robert Gibbs, antes de garantir que as forças dos Estados Unidos se esforçam para evitar a morte de civis.
O site Wikileaks.org, especializado na difusão de conteúdos sensíveis, divulgou na segunda-feira um vídeo gravado por um helicóptero americano que dispara e mata supostos homens armados no Iraque, que, na verdade, eram os funcionários da agência de notícias Reuters.
As imagens, gravadas por um helicóptero de ataque Apache, são acompanhadas pelo áudio de comunicação entre o piloto e o controle em terra, no qual o piloto revela que identificou homens armados, supostamente rebeldes, caminhando por uma rua de Bagdá, e pede autorização para abrir fogo.
O vídeo mostra um grupo de homens andando pela rua, incluindo os funcionários da Reuters Namir Noor-Eldeen e Saeed Chmagh. O piloto do Apache, que confunde a câmera de um dos jornalistas com um lança-granadas RPG, comunica ao controle em terra que avistou "cinco ou seis homens com (fuzis) AK-47" e pede permissão para abrir fogo, sendo atendido logo em seguida.
O helicóptero dispara rajadas de metralhadora e quando a poeira baixa os pilotos comentam que há "um monte de corpos" caídos no chão. "Olha todos estes desgraçados mortos. Que beleza".
Logo depois da primeira sequência de disparos, homens em uma van tentam socorrer os feridos, mas o veículo é atacado pelo helicóptero, e duas crianças são feridas no carro. Posteriormente, entre os mortos no ataque são identificados Namir Noor-Eldeen e Saeed Chmagh.
Um oficial do Exército americano, que pediu para não ser identificado, disse à AFP que o vídeo parecia ser verdadeiro.
[SAIBAMAIS]"Reconhecemos que o ataque ocorreu e que dois funcionários da Reuters" morreram no incidente. "Também sabemos que duas crianças ficaram feridas", disse o oficial. "Naquele momento não pudemos distinguir se levavam câmeras ou armas".
WikiLeaks se apresenta como uma organização sem fins lucrativos financiada por defensores dos direitos humanos, jornalistas e o público em geral.
Os Estados Unidos invadiram o Iraque no início de 2003 alegando que o governo iraquiano tinha armas de destruição em massa, mas tal armamento jamais foi encontrado. Desde então, tropas americanas permanecem no território iraquiano.