O presidente do Quirguistão, Kurmanbek Bakiyev, abandonou nesta quarta-feira (7/4) a capital do país em um pequeno avião, enquanto a oposição anunciou a formação de um novo governo depois de assumir o controle de vários edifícios, entre eles a Presidência e o Parlamento.
O avião deixou o aeroporto às 20h locais (11h de Brasília). "Eram no máximo cinco pessoas a bordo", declarou à AFP um funcionário do aeroporto de Bishkek. O funcionário, que pediu para não ser identificado, não informou o destino do avião, mas declarou que se tratava de uma aeronave pequena, incapaz de voar longas distâncias, e que teria que reabastecer logo, possivelmente em algum país vizinho.
Na capital, os manifestantes assumiram o controle da Presidência e formaram "seu próprio governo" depois de violentos confrontos com as forças de ordem, que deixaram dezenas de mortos, afirmou nesta quarta-feira o líder da oposição Temir Sariyev, em declarações trasmitidas pela rádio local.
Segundo ele, o primeiro-ministro do país, Daniyar Usenov, assinou carta de renúncia, "como resultado de negociações", afirmou Sariyev. O líder declarou que o opositor Roza Otunbayeva foi apontado como novo chefe do governo.
Mais de cem mortos
Em declarações à AFP, a responsável pelo Ministério da Saúde, Larissa Katchibekova, havia dito, antes, que ao menos 40 pessoas morreram e outras 400 ficaram feridas, a maioria delas na capital. Mas um dos líderes da oposição, Omurbek Tekebaiev, em pronunciamento transmitido pela televisão, declarou que "mais de 100 pessoas morreram nos conflitos" em Bishkek.
Mais cedo, centenas de manifestantes tomaram o Parlamento, localizado a alguns metros da sede da presidência, assim como a emissora local.As forças de segurança responderam disparando contra a multidão e lançando bombas de gás lacrimogêneo. Atiradores de elite foram deslocados para o teto do edifício presidencial.A rebelião contra o presidente Bakiev, que em 2005 foi levado ao poder após uma revolução, estendeu-se a várias cidades.
À noite, a casa de Bakiev em Bishkek foi saqueada e incendiada por ativistas, que saíram do local com grandes sacos cheios de roupa, lençóis e louças, segundo um correspondente da Interfax que estava no local.
Também reinava a incerteza sobre o que teria acontecido com o ministro do Interior, Moldomusa Kongantiev. Uma fonte do ministério, veículos independentes e diversas ONG asseguraram que ele foi morto em Talas (noroeste do país) durante os conflitos, mas a informação foi desmentida por um porta-voz do ministério.
Os confrontos em Bishkek foram o estopim de uma onda de protestos da oposição, que acusa o governo de violação aos direitos humanos, autoritarismo e de má administração econômica.Rússia e Estados Unidos, que têm bases nessa ex-república soviética, instaram ambas as partes à calma.Washington dispõe no aeroporto Manas, de Bishkek, de uma base chave para suas operações no Afeganistão. "Chamamos todas as partes a respeitar o Estado de Direito e resolver as diferenças de forma pacífica e legal", afirmou o porta-voz do Departamento de Estado, Philip Crowley.
A chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, declarou-se preocupada com a situação e pediu ao governo e à oposição do país "moderação" e diálogo. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, lançou um novo chamado "pedindo diálogo e tranqüilidade para evitar mais derramamento" de sangue.
5,3 milhões de habitantes
O Quirguistão é um país pobre e montanhoso da Ásia Central, com um Produto Nacional Bruto (PNB) de 590 dólares per capita, segundo dados do Banco Mundial de 2007. Seus principais recursos provêm do algodão, do cultivo de cereais e da criação de gado.Tem uma população de 5,3 milhões de habitantes, dos quais 65,7% são quirguizes, 13,9% uzbeques e 11,7% russos. Os quirguizes e os uzbeques são em maioria muçulmanos.